jueves, 13 de diciembre de 2007

Arte circense presente em minha vida

Desde tenra idade tenho admiração pela arte circense, ainda quando morava no interior ía sempre acima de três vezes assistir ao espetáculo que fincava as estacas e armava lonas anualmente, os espetáculos sempre se repetiam, mas para uma criança era mais magia, ou seja, um certo encantamento propagado por palhaços, apresentações acrobáticas e globos da morte que enchiam os olhos, sem contar no deslumbramento ante animais que só se via através da televisão. Hoje, depois de passados muitíssimos carnavais, aliás, nem tantos assim, mas o suficiente para perceber que não sou mais criança, fui a um desses circos da renomada capital do estado paulista, não houve tanta admiração assim, há uma apelação ao aparato tecnológico, um certo “entrar no século das revoluções por minuto”, em que as coisas vão se modificando com rapidez e o novo se torna velho em curto espaço de tempo.

Acredito que antes de uma análise mais crítica é relevante situarmos o circo na História humana que remonta à imprecisos antecedentes históricos que estão cercados de lendas e versões desencontradas. A mais convincente é a de que surgiu na China. Na Era do imperador Wu, da dinastia Han (220-206 Ac.), um torneio de treinamento de combate chamado Pai-Hsi (os cem espetáculos) juntou tantas apresentações acrobáticas surpreendentes que o imperador decidiu que, a partir dali, todos os anos, seriam realizados espetáculos do gênero durante o Festival da Primeira Lua. De ano a ano, os programas foram enriquecidos com novos números: equilíbrio sobre a corda bamba, sobre as mãos e sobre a percha. Jogo de pelota (futebol), Dança da espada, Magia, Tragar espadas, Engolir fogo e inúmeras outras ainda hoje apresentadas em circos.

Bem, depois dessa descrição histórica da origem circense vamos ao cerne da questão. Recentemente retornei ao interior paranaense e não deixei de apreciar uma noite de espetáculo dessa arte circense, pasmem, enquanto não dava início ao espetáculo um moderno projetor jogava nas enormes cortinas imagens nítidas de um show de dupla sertaneja, muito admirada por aquelas regiões sulinas. Instantes antes das performances circenses os sertanejos são interrompidos e pasmem novamente, inicia-se um minuto de propaganda dos patrocinadores, que nada mais são que as lojas, supermercados da pequena burguesia regional, sem deixar é claro de agradecer ao Prefeito pelo espaço cedido.

O espetáculo inicia-se ao som de música alta e um apresentador que além dessa função também é palhaço e domador de animais, um verdadeiro polivalente. O amadurecimento intelectual me fez perceber situações importantes. As piadas dos palhaços.

Pois são esses senhores de narizes vermelhos que fazem a alegria da criançada e de alguns adultos. Percebi que um circo do interior faz piadas bem mais ofensivas e até preconceituosas em oposição a um circo na capital paulista, um menino-espectador é levado ao picadeiro e chamado de burro pelo palhaço, o menino fica brabo, ganha uma bola de presente e fica por isso. Numa outra situação ele chama três mães como participantes, uma ele diz que só está ali porque abriram a porta do cemitério, outra era a Tris, Tristeza da família. A terceira tinha cara de capivara, tudo isso segundo o palhaço. Se já não bastasse isso, ao meu lado estava uma senhora de idade avançada, ela e muitas outras pessoas estavam achando aquilo horroroso, crianças choravam de tanto rir. Mas a meu ver o cataclisma estava por vir, dois anões, vestidos como noiva e noivo, era o casal global “tô doido”, Jujú e Jajá. Quanto menos se espera chega ao picadeiro um Padre também anão, rezam os três simultaneamente a sacra oração católica do Pai-Nosso e no fim da oração os três fazem um gesto obsceno, aquele de com os dois braços levados para frente do corpo são rapidamente levados no sentido do corpo. Fiquei impactado com a cena, não mais que muitas senhoras conservadoras que muito admiram toda a simbologia que envolve uma oração e se vêem num cena de iconoclasta. Ví uma atitude iconoclasta, ou seja, aquele que tenta destruir idéias religiosas, opiniões estabelecidas e tradições, tudo isso por conta dos palhaços (consciente ou não), que se fosse realizada numa grande cidade duvido que escapassem de processos judiciais, por conta dessa onda politicamente correta que assola o país.

Instigou-me a escrever esse pequeno texto uma incontrolável percepção de situações completamente divergentes, o circo do interior parece já viver o impacto da modernidade, ou seria pós-modernidade? com projetor de imagens e propagandas contrastando com uma linguagem verbal que facilmente nos tempos atuais é tida como politicamente incorreta e preconceituosa. Já no espetáculo paulista não encontrei essa linguagem verbal ofensiva e até iconoclasta, muito pelo contrário, os risos se concentraram quando palhaços faziam animaizinhos ao dobrarem com precisão coloridas bexigas e compridas ou mesmo pintavam o rosto de crianças lindas borboletas, leões...

Ao que tudo indica o circo do interior paranaense pouco mudou na sua essência lingüística, possui de certa forma maior liberdade ao abordar temáticas religiosas por exemplo, pois eu assistia quando criança, mas não percebia, hoje já assimilo com clareza as diferenças.

Douglas N. dos Santos