miércoles, 26 de octubre de 2011

O COPO DÁGUA

SAI DO EXPEDIENTE DE TRABALHO COMO NUM DAQUELES DIAS QUE PARECEM SER NORMAIS, EIS QUE SOU SURPREENDIDO POR SITUAÇÕES INUSITADAS.
ENTREI NO ÔNIBUS, PAGUEI A PASSAGEM, SENTEI TRANQUILAMENTE CURTINDO MÚSICAS PELO FONE DE OUVIDO DE MEU CELULAR. o MOTORISTA, DE FORMA ESPETACULAR, DIGNO DE DUBLÊ DE FILME DE AÇÃO, ACELERAVA MUITÍSSIMO, A CADA CURVA E A IMPRESSÃO ERA QUE TOMBARÍAMOS. POR QUE TANTA PRESSA? PERGUNTEI A MIM MESMO.
UMA SENHORA, POSSIVELMENTE CANSADA DE QUESTIONAR ESSA PROBLEMÁTICA, RESOLVEU QUE QUERIA SAIR DALI, AOS BERROS: - O MOTORISTA ESTÁ BÊBADO! BEBEU CACHAÇA! DÁ LICENÇA, QUERO SAIR! APERTAVA CONTÍNUAMENTE O BOTÃO DE SINALIZAÇÃO DE PARAR O ÔNIBUS E NADA DE O MOTORISTA PARAR, E EIS MAIS UMA CURVA E OUTRA E MAIS OUTRA, ATÉ QUE O ÔNIBUS PAROU E ELA DESCEU TODA RAIVOSA.
CONTINUEI O TRAJETO QUE TINHA COMO DESTINO O PONTO FINAL, LÁ O MOTORISTA CHAMOU AQUELA MULHER DE DESCONTROLADA, QUE FALAVA COISAS SEM SENTIDO, ELE DIZIA NÃO ESTAR BÊBADO. O MOTORISTA DISSE-ME QUE APENAS PARARA PARA TOMAR UM COPO DÁGUA E UM COMPRIMIDO PARA DOR DE CABEÇA. TERIA A SENHORA FEITO UM PRÉ JULGAMENTO NEM SABER EXATAMENTE OS FATOS? O CERTO É QUE ERA APENAS UM COPO DÁGUA.

miércoles, 7 de septiembre de 2011

De como uma aula ainda pode ser prazerosa

06 de Setembro de 2011
Há muito tempo o professor não sentia o prazer em dar aulas, trabalhar com o Ensino Fundamental II não é nada fácil, são alunos na sua grande maioria: mal educados, irresponsáveis, no geral, sem noção mesmo. Repensei meu semanário, que nada mais é que o planejamento para a as aulas da semana, partindo da música: “mulheres de Atenas”de Chico Buarque e Augusto Boal, percebi que os alunos gostaram mais da aula, gostaram do ritmo que para eles assemelha-se com forró, sertanejo tudo isso nada mais é que a visão de mundo deles mesmo tornando-se presentes na sala de aula, se já não bastasse alunos mais desinibidos levantando-se de seus acentos e dançando, há aqueles com os mesmos 11 anos de idade fazendo perguntas do tipo: Professor, não entendi essa parte da música. Qual? A de que “E quando eles voltam, sedentos Querem arrancar, violentos Carícias plenas, obscenas”. Então, Leonardo, é o seguinte... os compositores da música quiseram dizer que... deixe-me ver... Professor, é a mesma coisa que ter bebês??? Isso! É mais ou menos isso! Ah, entendi professor! Nessas Escolas em que o Funk predomina, há aqueles que concebem o deitar-se como procriação. Cada família com seus valores e crenças influenciando seus filhos.

miércoles, 24 de agosto de 2011

O VELHINHO DA CALÇA BORRADA



Saí da estação Antônio Giannet, o vagão possuía alguns lugares vazios, sentei-me, tentei ler um pouco ou até mesmo corrigir atividades escolares, não adiantou, adormeci. Acordo com risadas, porém não vejo nada de engraçado, de repente, não mais que de repente sinto a respiração, eis que há mau cheiro no ar. Tento a todo custo saber de onde vem tal fedor, será que estamos próximos de um córrego? Rio poluído? Só sei que está garoando. Poxa, mas os trilhos desse trem não passam por tais lugares, passam sim pela periferia da zona leste de São Paulo, observo a esquerda e nada de estranho, a não ser muitas pessoas tampando as narinas, e não suportando-se em seus lugares, assim como eu. Terá algum terrorista ou até mesmo um separatista injetado veneno no ar condicionado? Será um plano de envenenamento da massa trabalhadora? Dos pobres? Ah, se tivesse um carro não estaria passando por isso. Quem carro tem, literalmente se isola dessa convivência nenhum pouco calorosa e animadora. Mas carro é caro e não estou disposto em desembolsar muita grana nesse momento, preciso comprar uma morada, estabilizar-me, é a tendência do homem, também não tenho certeza de meu destino em Ferraz de Vasconcelos, ultimamente esse Município não tem contratado professores, a política nativa é de arrocho na folha de pagamento, se quer o vale transporte é pago corretamente nessa prefeitura, como diria o cantor Silvio Brito, tem que pagar pra nascer, tem que pagar pra viver, tem que pagar pra morrer e acrescento, professor tem que pagar pra trabalhar. Que droga! O mau cheiro permanece! A CPTM informa: Pedir esmolas e o comércio ambulante são práticas ilegais. Não incentive essas ações. Nada do mau cheiro dissipar, pudera! O trem não abre as janelas e pior, talvez estejamos no maior intervalo de tempo dessa linha, entre as estações: Tatuapé e Brás. Os olhares estão focados num velhinho. Eis que vejo-o com calças borradas. Matei a charada! É ele que está proliferando o fedor, em pé, sozinho, com o rosto virado para o lado de fora da porta do trem ele observa o movimento na rua tranquilamente, como se toda a situação desconfortante passada por nós não tivesse nada a ver com ele. O Brasil não possui vocação para o terrorismo, já possui autoridades políticas que aterrorizam-nos os bolsos o suficiente para percebermos que o imenso borrão na calça do velhinho não é somente culpa dele, um pobre velho marginalizado.

Douglas é Professor em Ferraz de Vasconcelos

miércoles, 6 de julio de 2011

Livros racistas e mal escritos distribuídos em rede pública de ensino

FÓRUM DAS ENTIDADES NEGRAS DE LONDRINA – FENEL
Peço a contribuição de tod@s para que consigamos fortalecer a reivindicação de que esse material terrível, em todos os sentidos, seja retirado o mais rápido possível do alcance de nossas crianças.

Às/aos representantes de entidades, professores/as, intelectuais e ativistas sociais peço que que emitam parecer sobre esse material e verifiquem se no seu município ele é utilizado. A professores/as, em especial, peço que conversem em a direção da escola e recolham esses livros enquanto aguardamos a ordem do Ministério Público.

Após 15 anos trabalhando na Rede Pública de Educação posso garantir que nunca vi livros tão ruins. São terríveis em todos os aspectos possíveis: nos textos mal construídos ou copiados da internet; nas imagens desfocadas e/ou descontextualizadas; no uso ortográfico da Língua Portuguesa, bem como na pontuação, concordância verbal, nominal, no uso de repetições, etc, etc. Mas, sobretudo, é terrível na medida em que destrói a história negra. Tem por base o conhecimento sedentário do senso comum racista à brasileira e seu parente mais próximo: o não conhecimento, a ignorância.

Estive muitas vezes a ponto de passar mal ao tentar analisar esse material - digo tentar porque precisaria de umas cem páginas apenas para descrever tantos absurdos da coleção composta por 5 livros. Decidimos no FENEL - Fórum das Entidades Negras de Londrina, apresentar no parecer apenas alguns exemplos dos problemas mais graves. Após protocolar no Ministério Público o pedido de reconlhimento, estamos confiantes que seja feito o mais rápido possível, mas ainda tristes: o suor do trabalho negro é usado para constituir impostos investidos na deseducação e no desrespeito a nossa história.

Leiam o parecer, divulguem, emitam seu parecer. Nos ajudem nessa luta contra a ignorância e o racismo.

Um abraço,

Maria Evilma Alves Moreira, professora.

Segue o parecer:

FÓRUM DAS ENTIDADES NEGRAS DE LONDRINA – FENEL
PARECER DO FENEL – FÓRUM DAS ENTIDADES NEGRAS DE LONDRINA, SOBRE A COLEÇÃO VIVENCIANDO A CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA. Gleisy Vieira Campos (et al). São Paulo, SP: Ed. Ética do Brasil, 2010.

A Lei 10639/03, que institui a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana e afro-brasileira em toda a educação básica nacional, a inserção dos conteúdos referentes a história e cultura afro-brasileira no âmbito de todo o currículo, no seu Artigo primeiro determina “O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.” Com base nessa perspectiva, posta pela referida Lei, o FENEL – Fórum das Entidades Negras de Londrina, atendendo a solicitação de educadores/as incomodados/as com os problemas explicitados nesse material, analisou os cinco livros que compõem a Coleção Vivenciando a Cultura Afro-Brasileira e Indígena, adquirida pela Prefeitura Municipal de Londrina para toda a rede municipal de educação.
É possível perceber logo nas primeiras páginas, de cada um dos volumes, problemas latentes, tanto de ordem estrutural (coesão e coerência textual, uso da pontuação, ortografia, concordância verbal e nominal, sequência, didaticidade ou relevância pedagógica dos exercícios propostos, etc.), quanto de ordem conceitual (ausência de glossário de termos complexos ao entendimento infantil, equívocos graves sobre os conteúdos propostos) e referencial (citação dos autores utilizados, referência e legenda das imagens utilizadas, coerência científica no uso das fontes de pesquisa, etc.). São tantos os equívocos e as deficiências dessa Coleção que nos deteremos a listar aqui apenas alguns exemplos dos mais graves, a fim de tornar esse parecer mais objetivo:
- É possível identificar a teoria do embranquecimento, da miscigenação e do racismo cordial, alternada com textos que as contradizem sem conceituação ou qualquer recurso que permita aos leitores discernir tais posicionamentos teóricos, atravessados por estereótipos. De modo geral, a Coleção apresenta a ideologia da democracia racial, do racismo cordial, que possibilitou a mistura, a miscigenação, instaurada na nossa sociedade, mas amplamente questionada por pesquisas do sociólogo Florestan Fernandes e outros estudiosos da temática. É possível identificar uma visão etnocêntrica referente a diversidade étnico-racial, em que a cultura européia “branca” aparece como superior e evoluída enfatizando sempre as expressões “cultura deles” e a “nossa cultura”. Tais estruturas podem construir a impressão de que o material deve ser utilizado por crianças brancas (“nós”), que devem se aproximar do exótico (“eles”, o “outro”).
Aspectos de opressão relativos a negros e indígenas são amenizados, desde o processo de colonização. São excluídos sistematicamente os conhecimentos produzidos no continente africano antes da colonização, tecnologias, impérios, ciência, etc. É desconsiderada a existência dos povos africanos no período anterior a colonização européia, construindo a impressão de que a história africana se inicia a partir da presença dos colonizadores europeus.
- “... a mistura é como uma salada...” (1o ano, p. 12)
- “ No Brasil, o homem índio casou-se com uma mulher negra, a mulher branca casou-se com um homem negro e, assim, a mistura começou”. (1o ano, p. 18)
- “... ‘Misturô
Com os índios da terra,
Com o negro aprisionado,
Com o branco invasor.” (1o ano, p. 19)

- A história da África é omitida, da mesma forma que os conhecimentos e tecnologias de origem africana. Essa postura teórica constrói o efeito de que não existem história ou saberes africanos antes da chegada dos europeus, ou que tais saberes se restringem a algumas manifestações culturais, às características fenotípicas e à culinária. De acordo com o que é apresentado, a história dos negros se inicia na escravidão.
Em nem um dos volumes há apresentação da África como continente, de modo que sejam citados países africanos, com especificidades culturais, geográficas ou humanas, mas sim situações generalizantes em que pessoas ou objetos simplesmente são definidos como africanos. Chega-se ao cúmulo de, no livro do 5o ano, p. 12, o continente africano ser definido como um país:
“A música abaixo traz uma riqueza de conhecimentos sobre a África, país de nossos ancestrais.” (5o ano, p. 12)
As contribuições africanas são descritas como se fossem restritas a alguma participação na cultura (religião, danças, música, culinária) e na definição de traços fenotípicos (cor da pele e cabelo).
Não são apresentados jogos ou brincadeiras de matriz africana, ao contrário, apresentam em vários momentos brinquedos de sucata, reforçando a ideia de inferioridade étnico -racial, como se negros e indígenas não tivessem a possibilidade de criar brinquedos e por isso, copiassem os brinquedos de “ nossa cultura”, ou da cultura branca mais evoluída, utilizando objetos velhos, descartados. (p. livro 2)
- A referência bibliográfica dessa coleção é composta basicamente de pesquisas realizadas na internet. Muitos textos foram copiados integralmente. Apesar dos séculos de conhecimento científico acumulado em livros, artigos, entre outras fontes, e da premissa que o objeto de trabalho da escola é o conhecimento científico relacionado ao conhecimento empírico e as demais formas de construir o saber, ao verificarmos a bibliografia, em todos os volumes, percebemos que as fontes consultadas foram na absoluta maioria sites de pesquisa rápida, inclusive páginas de relacionamento pessoal (do tipo blog, ou diário virtual) da rede mundial de computadores:
PRIMEIRO ANO (80% da pesquisa em fontes da internet, cerca de 40% em páginas de relacionamento):
- 02 (dois) possíveis livros sobre os quais não há referência de ano, data, editora, nem local de publicação.
- 16 (dezesseis) referências de páginas da internet. Dessas, 08 (oito) são blogs, que podem ser definidos como diários virtuais em que pessoas postam matérias e opiniões de seu interesse, informalmente, sem nem uma exigência científica.
SEGUNDO ANO (mais de 85% da pesquisa em fontes virtuais):
- 03 (três) livros.
- 18 (dezoito) referências de páginas da internet. Dessas, 02 (duas) são blogs.
TERCEIRO ANO (70% da pesquisa em fontes virtuais, 11% em sites de relacionamento pessoal):
- 06 (seis) livros.
- 14 (quatorze) referências de páginas da internet.
QUARTO ANO (Mais de 50% da pesquisa em fontes virtuais):
- 08 (oito) livros.
- 11 (onze) referências de páginas da internet.
QUINTO ANO ( Mais de 50% da pesquisa em fontes virtuais):
- 08 (oito) livros.
- 11 (onze) referências de páginas da internet.

- Praticamente todas as imagens com baixa resolução, desfocadas, muitas sem legenda, sem referências de autor, data, ou contexto e, devido a falta de qualidade de impressão, algumas são indecifráveis. Além disso, muitas imagens reforçam estereótipos, preconceitos e situações de humilhação e sofrimento de negros/as subjulgados/as a pessoas brancas. Outra incoerência que ocorre sistematicamente é o fato de que, em diversas situações, é impossível relacionar a imagem ao texto que a antecede ou sucede e, não raras vezes, a imagem contraria o texto.
A página 103 do livro do 3o ano, apresenta um fato didático absolutamente lamentável: a imagem de um menino branco urinando em um menino negro. Esta imagem, por si só, invalida toda a Coleção pela sua brutalidade. Mostra, numa ilustração que ocupa quase toda a página, um menino branco urinando, de pé numa cama, sobre um menino negro inerte, “protegido” por um Cristo na cruz! Esta imagem tem como legenda “explicativa”: “A PRESENÇA E A PARTICIPAÇÃO DO NEGROS EM OBRAS LITERÁRIAS ESTEVE SEMPRE ASSOCIADA A IMAGENS DE ESCRAVIDÃO, TRISTEZA, DOR, SOFRIMENTO E HUMILHAÇÃO. OBSERVE A IMAGEM ABAIXO:” É isto, sem maiores comentários (além dos erros de concordância...) ou críticas, a afirmativa “normalizando” a afirmação como se esta situação fosse “comum”; e, mesmo quando se refere, em baixo, à mudança da literatura brasileira que “RECUPERA A DIVERSIDADE DE VOZES PRONUNCIADAS NA MATRIZ CULTURAL BRASILEIRA”, os exemplos dos escritores negros estão nas páginas seguintes (Solano Trindade e Alzira Rufino), sem maiores explicações de quem são, de onde são: aparecem apenas em fotos PB e com uma poesia para cada um. Mas esta chamada para autores negros que podem mudar a situação de extrema violência representada pela imagem da pg. 105 fica anulada pela repetição da mesma imagem, logo na pg. 107, colocada ao lado da ilustração de capa do livro Pai João Menino, que mostra o negro infantilizado, ao lado de um jumento, seu “companheiro”, retomando o estereótipo do “negro bom”, “humilde” e “engraçado” – estas duas imagens, são a chamada de um exercício de fixação, que tem o seguinte cabeçalho: “O QUE VOCÊ ACHA DAS IMAGENS APRESENTADAS EM LIVROS DE LITERATURA? COMO OS NEGROS APARECEM NESTAS IMAGENS? POR QUE VOCÊ ACHA QUE ELES APARECEM DESSA FORMA?” Novamente, sem qualquer indicação crítica ou de desaprovação.




Sabendo que a criança do 3º. ano terá em torno de 09 anos e, de acordo com Piaget, está na fase das operações concretas, a partir das quais reorganiza o pensamento para ver o mundo com mais realismo, construindo as classificações que irão embasar os conceitos básicos e a compreensão do mundo, interiorizando as regras sociais e morais, adquirindo valores e estabelecendo os espaços de pertencimento – e sabendo que a imagem, principalmente para a criança atual, é fundamental na construção do processo cognitivo – podemos concluir, com certeza, que esta imagem, reforçada pela repetição e fixada no “exercício” terá uma influência profundamente perversa, tanto para a criança branca que se verá “empoderada” através da humilhação mais cruel, quanto para a criança negra que, através desta mesma violência, se verá reduzida ao lugar “de sempre” da aniquilação.

Esta imagem, absolutamente hedionda, é mais do que suficiente para colocar toda a Coleção Vivenciando a Cultura Afro-Brasileira e Indígena como uma ferramenta de deseducação, de incentivo ao Racismo e ao bullying, que a Escola Fundamental não merece e que a sociedade brasileira precisa rejeitar completamente. Mas o Livro do 3º. ano apresenta ainda outras imagens e colocações bastante problemáticas.

Não há nessa Coleção nem uma imagem em que crianças negras apareçam estudando ou com livros. Também não há imagens que indiquem pessoas negras em profissões prestigiadas socialmente, ligadas ao conhecimento científico e à tecnologia.

Em todos os volumes, é possível verificar nas imagens a perspectiva do branqueamento (gradual) e da miscigenação (que tem como resultado o branqueamento) como solução para a cor negra, o que é reforçado com textos como no poema “A Borboleta” (3o ano, p. 13) que narra a história de uma borboleta que morreu de mágoa ao perceber que era preta e parda e, portanto, feia; a história é resolvida quando Deus dá outra cor à borboleta.
É possível notar também nas imagens animalização de negros e de indígenas:
- Ilustração esdrúxula de indígena. (1o ano, p. 36)
- Ilustração esdrúxula de mulher africana. (1o ano, p. 64)
- Ilustração de africanos como macacos. (4o ano, p. 12)
- Ilustração de indígena em que se pode ler: “Salve a natureza! E a nós também!” (5o ano, p. 64).
No livro do 4o ano, a ilustração de menino negro acorrentado, de cabeça baixa e chorando. Denota passividade, sofrimento e humilhação, contrariando o título que precede a imagem: “Memória afro-brasileira e indígena – sinônimo de resistência e luta”. (p. 35).
- Ausência de glossário com palavras chave, necessárias para mínima conceituação de alguns termos específicos da discussão enticorracial. Palavras como negros, afrodescendentes, afro-brasileiros e afro-indígenas são utilizadas de forma alternada, sem conceituação ou critério que permita a criança leitora condições de vislumbrar tais escolhas lexicais e as implicações que cada uma tem. Termos complexos à compreensão infantil como “dispersão étnica”, “homologação”, “donatário”, etc., simplesmente aparecem no texto sem contextualização.
- Erros grosseiros, possivelmente resultado da falta de revisão ortográfica, ou de edição. São sistemáticos erros na utilização da vírgula, contrariando normas básicas da escrita ao separar com vírgula sujeito e predicado ou utilizá-la após E, quando essa é aditiva. Vários erros de concordância verbal e/ou nominal comprometem a compreensão e o aprendizado de regras básicas da escrita e de regularidades ortográficas, além dos absurdos conceituais que são incontáveis:
“... aprizionados...” (1o ano, p. 53)
“... cresimento...” (1o ano, p. 54)
“Os índios foram às primeiras pessoas a habitar o Brasil, mas isso já tem muito tempo... Eles viviam de forma bem diferente de como vivemos, assim como os africanos trazidos da África, esses dois povos tinham uma maneira própria de viver e, é isso que vamos aprender aqui.” (2o ano, p. 11)
“... Mas hoje poucos grupos ainda vivem dessa forma, porque devido à aproximação e das mudanças trazidas de outras culturas, eles começaram a experimentar as mudanças e a conviver com as diferenças”. (2o ano, p. 13)
“Assim, durante muito tempo, os índios viveram.” (2o ano, p. 13 – parágrafo de início de um capítulo: não há descrição de como seria esse “assim” que os indígenas viveram).
“... Eles chegavam em navios chamados de ‘navio negreiro’, vindos da África.” (2o ano, p.20)
“As crianças indígenas aproveitam o que a natureza oferece e, transforma tudo em diversão.” (2o ano, p. 32)
“As crianças é quem mais aprendem com tudo isso.” (2o ano, p. 45)
“Os africanos também buscavam respostas para o que ainda não conseguiam entender, principalmente em relação às ações da natureza, como a chuva, o sol, a lua e as plantas e, assim como os índios, nos deixou muitas histórias misteriosas.” (2o ano, p. 49)
“... essa cultura vem de muito antes de você nascer, veem das comunidades e pessoas mais velhas.” (2o ano, p.57)
“Vai um chazinho ai?” (2o ano, p. 58)
“Tudo isto, sem dúvidas, são contribuições da cultura africana e indígena, mas é importante completar o pensamento e enxergar os múltiplos significados que infiltra cada uma dessas manifestações.” (3o ano, p. 11)
“A cultura afro-indígena brasileira é herdeira de grande beleza e peculiaridade singular.” (3o ano, p. 11)
“Represente por meio de desenhos, as heranças de origem africana e indígena e, que hoje fazem parte da cultura brasileira e estão presentes no nosso cotidiano.” (3o ano, p. 12)
“Na verdade a tradição oral faz parte do nosso dia a dia e, tem suas raízes na cultura afro-indígena” (3o ano, p. 14)
“... os não índios utilizam o quê para esta mesma função? (3o ano, p. 27)
“... fazendo com que o povo viva a comunicação em todos os seus seguimentos” (3o ano, p. 29)
“Existe um repertório grande de danças e ritmos brasileiros de origem africanas e indígenas” (3o ano, p. 40)
“Faça uma pesquisa sobre a história de sua família. Procure saber quem foi os pais dos seus avós...” (4o ano, p. 15)
“Pesquise em livros, revistas, internet ou pessoas...” (4o ano, p. 21)
“... O que tem haver com o princípio da intolerância?” (4o ano, p. 58)
“... Várias músicas marcaram época e alcançaram o topo na lista de sucesso das rádios: Peter Tosh e Bob Marley.” (4o ano, p. 71)
“A nossa identidade brasileira, é constituída pelos povos africanos que vieram para o Brasil como escravos...” (5o ano, p. 11)
“... neste sentido é que dizemos que nossa origem é afro-brasileira; e pelos indígenas.” (5o ano, p. 11)
“A música abaixo traz uma riqueza de conhecimentos sobre a África, país de nossos ancestrais.” (5o ano, p.12)
“Fazer leitura do livro ‘O menino marrom de Ziraldo’, conheça mais sobre identidade.” (5o ano, p. 15)
“Um autorretrato é um retrato, uma imagem, que o artista faz de si mesmo.” (5o ano, p. 24)
“Senso” (estatístico) (5o ano, p. 37 e 38 – no título e no texto).
“Autodeclarar-se então, deve ser motivo de orgulho em declarar: ‘sou negro ou negra, sou índia ou índio’...” (5o ano, p. 37)
“... o aluno deve se declaram como negro ou pardo...” (5o ano, p. 68)
“bloco-afro” (5o ano, p. 80)
“Que frase no texto, o autor reconhece que somos descendente dos índios?” (5o ano, p. 99)
- Equívocos conceituais absurdos, que comprometem a compreensão e induzem a erros graves. Não foi realizada uma padronização dos conceitos utilizados na Coleção o que ocasiona que um livro, ou um capítulo, refira-se a negros, outro a afrodescendentes, outro a afro-brasileiros ou ainda a afro-indígenas.
Outro problema grave é que, especialmente no livro do 3o ano, são utilizadas expressões como “origem africana e indígena”, “povo africano e indígena”, intercaladas com “afro-indígena”, que podem construir a impressão de que povos africanos e indígenas vieram (ou foram trazidos) do mesmo espaço geográfico.
Nessa perspectiva, é gravíssima a afirmação de que há uma “língua afro-indígena” (3o ano, p. 14), pois conduzem à crença errônea de que há no Brasil uma língua falada apenas por “afro-indígenas”. Não existe CULTURA AFRO-INDÍGENA. Existem culturas de matriz africana e de matriz indígena. E cada uma dessas matrizes diz respeito a povos muito diversos e a culturas muito variadas.
Reduzir todas as culturas e histórias afro-descendentes e indígenas a uma única CULTURA AFRO-INDÍGENA. Além de estar errado, é uma forma de diminuí-la.

O processo de escravização é apresentado de forma que, ora ameniza a situação compactuando com teorias da miscigenação, ora naturaliza a suposta inferioridade negra, explicitando o papel de escravo como umbricada à sua origem e identidade:
“Você já sabe que ocorreu a união entre pessoas negras, índias e brancas. Dessa união originou a nossa diversidade.” (1o ano, p. 36)
“O Candomblé é uma religião africana trazida para o Brasil no período em que os negros chegaram para serem escravos.” (1o ano, p. 73)
“Crianças brancas e negras andavam nuas e brincavam até os 5 ou 6 anos de idade. Aos 7 anos a criança negra assumia seu papel de escrava.” (2o ano, p. 24)
“A nossa identidade brasileira, é constituída pelos povos africanos que vieram para o Brasil como escravos.” (5o ano, p. 11)
“Na luta pela liberdade, o escravo afro-brasileiro escreveu uma história de luta e determinação.” (4o ano, p. 34)
“Ao longo de sua história na América, os afrodescendentes optaram por várias religiões.” (5o ano, p. 52)
Na página 34 do livro do 4o ano, a organização dos parágrafos, o paralelismo de estruturas, pode sugerir que o atual presidente dos Estados Unidos é afro-brasileiro, pois tanto o contexto que antecede quanto a sequência do texto tratam de afro-brasileiros e nessa confusão, parece ao leitor desavisado que é uma referência a Barack Obama, que seria brasileiro.
O livro do 2o ano, provoca uma confusão que beira o risível ao apresentar duas imagens (p. 79 e p. 81), de uma cantora, da Banda Calypso, como representante de uma dança indígena. É sabido que muitos artistas, dos mais variados estilos, utilizam representações da cultura indígena, mas visibilisar um deles preterindo um representante indígena causa, no mínimo, estranhamento.
A página 13, do 3o ano é uma das mais perturbadoras Na parte de cima, existe um texto que reconhece que AINDA EXISTE MUITO PRECONCEITO com O POVO AFRICANO E INDÍGENA e, para estimular a reflexão e discussão sobre este fato é apresentado o seguinte poema:

A BORBOLETA

DE MANHÃ BEM CEDO
UMA BORBOLETA
SAIU DO CASULO
ERA PARDA E PRETA

FOI BEBER NO AÇUDE
VIU-SE DENTRO DA ÁGUA
E SE ACHOU TÃO FEIA
QUE MORREU DE MÁGOA.

ELA NÃO SABIA
- BOBA - QUE DEUS
DEU PARA CADA BICHO
A COR QUE ESCOLHEU

UM ANJO A LEVOU,
DEUS RALHOU COM ELA,
MAS DEU ROUPA NOVA
AZUL E AMARELA

É difícil imaginar algo mais cruel para ser dito a uma criança PARDA E PRETA: que é “natural que ela se ache TÃO FEIA, que morra de MÁGOA. Mas, uma vez morta por se julgar feia e inadequada, ainda leva bronca de Deus que, no entanto, para consolá-la, lhe dá uma roupa nova (esta, sim, implicitamente, bonita): ROUPA NOVA AZUL E AMARELA. Talvez uma relação com a loura e dos olhos azuis. Esse texto é absolutamente cruel, preconceituoso e nefando.

A explicação que justifica a existência de Movimentos Sociais constrói um imaginário estigmatizado e errôneo: “Eles existem para organizar populações pobres e reivindicar algum direito ou recurso.” (5o ano, p. 48)
Contudo, a definição do que seria o Movimento Social Negro merece especial atenção por, além de estigmatizar, criminalizar as organizações negras:
“Movimento negro (MN) é o nome genérico dado ao conjunto dos diversos movimentos sociais afro-brasileiros, de cunho racista, particularmente aqueles surgidos a partir da redemocratização pós-segunda guerra mundial, no rio de Janeiro e São Paulo.” (5o ano, p. 78)
Numa primeira leitura, alguém pode acreditar em mais um erro de digitação. Entretanto, na sequência do texto, vários termos caracterizam negativamente o Movimento Negro, como “clandestinos”, “radical”, “insurreições” demonstram a defesa e que realmente a temática desse movimento é racista e de ameaça à ordem. Tal defesa desqualifica parte de história da população negra brasileira, representada por ações do Movimento Social Negro no enfrentamento do racismo e não na prática racista, como afirma o texto.
No Brasil, o preconceito racial e a discriminação não são explícitos, mas, pelo contrário, marcados por sorrisos e desculpas que definem a Democracia Racial, construindo sempre desculpas para mostrar a cultura e a história negra como um folclore – como no Livro 4, na pg. 42, a estátua de Zumbi tem como legenda: “No Brasil, Zumbi significa um fantasma que, segundo a crença popular afro-brasileira, vagueia pelas casas a altas horas da noite. É também conhecido como um ser morto-vivo.” Um folclore ou um susto... além, é óbvio, dos erros de informação. Desta forma, a Coleção se presta ao manejo já viciado de “dizer” que a cultura de matriz africana tem valor, mas circunscrever este valor aos aspectos mais “divertidos e folclóricos” da sociedade. Para o negro sobra o lugar de pagodeiro, de jogador – os negros importantes, aliás, são todos, americanos ou africanos: Mandela, Obama, Whoppi Goldeberg, Malcon X, Luther King; a única exceção é João Cândido, nunca existiram Lélia Gonzáles, Luiz Gama, Milton Santos, Abdias Nascimento ou qualquer outra personalidade negra brasileira ilustre.

- Propostas de atividades incompreensíveis, incoerentes e/ou sem objetivo didático. Várias atividades solicitam aos alunos pesquisas que reforçam situações de preconceito. A relevância das atividades propostas pode ser questionada em toda a coleção, mas certamente solicitar que situações que visibilizam preconceitos e discriminação só contribuirão negativamente no ambiente escolar.

- Os conteúdos são apresentados de forma fragmentada, sem relação com os demais conteúdos curriculares, contrariamente ao que institui a Lei 10639/03.













CONCLUSÃO
Pelo exposto, que são fragmentos dos muitos problemas revelados na Coleção Vivenciado a Cultura Afro-Brasileira e Indígena, fica explícito o conteúdo nocivo ao aprendizado dos alunos da Rede Municipal de Londrina.
O uso de tal material com crianças de 6 a 10 anos de idade, além de prejudicar as relações étnico-raciais, estabelecendo valores preconceituosos baseados no senso comum, negligencia saberes básicos da aquisição da escrita da Língua Portuguesa e dos conhecimentos científicos. Além disso, pode ocasionar traumas e auto rejeição de crianças negras e indígenas, da mesma forma que pode contribuir para que crianças brancas construam um sentimento de superioridade aos demais grupos étnico-raciais.
A Coleção está repleta de “equívocos”, alguns mais ambíguos e outros, igualmente trágicos (como o texto sobre o cabelo negro, 1o ano, p. 80). Mas, o pior problema da Coleção é que, na sequência dos temas e na apresentação das imagens, o negro é constantemente colocado na posição de quem tem como única contribuição, para a civilização humana, a dança folclórica, a música de percussão, a comida, a capoeira, tendo, inclusive, a sua arte qualificada como primitiva e sua escrita comparada às garatujas infantis. Qualificar o negro como o ser do lúdico, do ritmo e do batuque, significa retomar a ordenação racial proposta pelas teorias racialistas do séc. XIX/XX: o branco como o ser da autoridade e da inteligência; o amarelo como o ser da mística e o negro como o ser do lúdico. Cada “raça” ocupando seu nicho, cada qual no seu “degrau evolutivo”, sendo, é claro, o negro percebido como um ser infantil, incivilizado e primitivo.

A ausência de imagens nas quais crianças, jovens ou o adultos negros sejam mostrados lendo, estudando ou no exercício de uma profissão liberal – todas as imagens (algumas são até belas e sorridentes, embora sempre desfocadas) são de um ser humano “natural” destituído de uma inclusão social mais valorizada. Quando, no Livro 4, na pg. 96, se cita o artigo 62, contra a discriminação racial, aí a imagem do negro é cabisbaixa e triste.

Desta forma, a Coleção se presta ao manejo já viciado de “dizer” que a cultura de matriz africana tem valor, mas circunscrever este valor aos aspectos mais “divertidos e folclóricos” da sociedade. Para o negro sobra o lugar de pagodeiro, de jogador de futebol ou do marginalizado, mas, sempre “alegre e feliz”... Esta forma de “qualificar” as pessoas negras, negando-lhes sua história, omitindo a violência que sofreram, minimizando os movimentos de resistência, descontextualizando suas realizações artísticas e suas crenças religiosas, “naturalizando” sua humilhação e sofrimento, é a forma “cordial” de discriminar, de não-respeitar, de incluir as pessoas apenas no lugar da inferioridade – fazer isto com figuras coloridos e adjetivos como “bonito”, “gostoso”, “interessante”, “forte”, não resolve nada: apenas mascara a exclusão e dificulta/desautoriza a revolta contra o preconceito.

Esta Coleção contem erros abomináveis, ambigüidades absurdas, mas, acima de tudo, é um instrumento de aniquilação do espírito de uma criança negra que, submetido a ela, jamais se verá como capaz de ir para uma universidade ou ser qualquer outra coisa que um cantor – não estamos menosprezando esta profissão nem, muito menos, diminuindo a importância da música negra como instrumento de resistência – mas percebendo que colocá-la como único nicho de realização profissional é insultar a música e os músicos negros e limitar as possibilidades de sonho e realização das crianças negras.

Pelos motivos expostos, solicitamos ao Ministério Público, ao Conselho Municipal de Educação e à Secretaria Municipal de Educação que a COLEÇÃO VIVENCIANDO A CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA (2010) seja recolhida imediata e urgentemente para evitar danos à formação das crianças estudantes da rede municipal.








Comissão de Avaliação do FENEL – Fórum das Entidades Negras de Londrina.












Londrina, 21 de junho de 201

sábado, 11 de junio de 2011

Raquel, a menina que recusou a cumprimentar o Ditador Figueiredo


Menina recusa-se a cumprimentar o
presidente General João Baptista de Oliveira Figueiredo, como a História MUDA http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2011/06/encontrada-menina-da-foto-que-virou-simbolo-de-desgaste-da-ditadura.html


martes, 15 de marzo de 2011

"Cabeças de Vento" - Nossa primeira Comédia

Do arco da velha!!!

NÓSTRA CENA 2008
Mostra dos Processos de Finalização das Oficinas de Teatro da Cia do Nó.

Nos dias 23/11, às 19h e 06/12, às 20h participamos do espetáculo "Cabeças de vento".
 
Teatro Cia do Nó
Rua Regente Feijó, 359 - Vila Assunção - Santo André-SP.
 
Informações:
 
4436-7789 / 8364-4933
 
 
"Cabeças de vento"
 
Elenco: Aline, Caio, Douglas, Esmeralda, Fernanda, Laila, Marcela, Robson, Samantha.
Dramaturgia: Laila
Direção teatral: Rebeca
Supervisão teatral: Esdras Domingos
Sonoplastia: Douglas

Sinopse: O médico da cabeça está de passagem por uma cidade, pessoas não são aceitas pela sociedade por expressar quem elas realmente são e procuram o médico da cabeça para consertar esse “de feito”, ele as conserta, mas as pessoas acabam gostando da cabeça provisória.
Gênero: Comédia.

Cena 1
(Pedalando uma bicicleta o médico da cabeça entra na primeira cena, anunciando seus serviços em voz alta num ritmo feirante)
Dr. Sócrates: É dia de feira, Quarta-feira, Sexta-feira, Não importa a feira, É dia de feira, Quem quiser pode chegar... Dor de cabeça, meningite, depressão, ansiedade, labirintite, sonolência, enxaqueca, ver e não enxergar, sinusite, traumatismo craniano, cleptomania, miopia, esquizofrenia, hipocrisia, paixão mal resolvida, falta de juízo, de memória, de inteligência e de talento... deixa de ser cabeçudo e vem comigo que conserto sua cabeça nesse exato momento! Sou qualquer um não, sou conhecedor das ciências médicas e mediúnicas, tenho a solução para sua aflição! Aproximem-se!
Zé Ruela: (Pensa alto) Ochente, que coisa doida é essa! É dotô da cabeça? Valha-me Deus eu não ví um troço desse em toda a minha vida. Óia que eu sou um homem muito viajado, heim!? Eu sou Brasileiro de coração e por opção!
(Sai de cena)
Cena 2
Lizzie: Volta aqui!
Giovanna: Não! Deixa eu ir.
Lizzie: Você não vai entrar lá.
Giovanna: Mas eu preciso...
Lizzie: Não, a mãe já está dormindo, você não vai entrar lá, deixa para amanhã.
Giovanna: Calma Lizzie, deixa eu explicar. Sabe o que é, os meus amigos estão combinando de ir em uma balada que vai ser em São Caetano e só vai quem falar hoje com eles na net. Eu quero muito ir. Então por isso...
Lizzie: Tá, iiii...
Giovanna: Então eu preciso ir...
Lizzie: Não! Volta aqui!

(Giovanna sai correndo)

Cena 3
Michelle: Oi, Will.
Will: Oi Michelle, que bom te ver.
Michelle: Eu estava mesmo precisando muito falar com você.
Will: Pois então diga amiga.
Michelle: Hoje à noite eu vou distribuir sopão para as pessoas em situação de rua.
Will: Pra quem?
Michelle: Para as pessoas que moram na rua.
Will: Mendigos?
Zé Ruela:Vixi maria! Vão servi uma quentinha pra mim! Eitâ coisa boa! Eu quero duas heim pá garantir a de amanhã!
Michelle: É... E você podia ir ajudar!
Zé Ruela: (Interrompendo a conversa) Carece não minha linda, só você já tá bão demais!
Will: Não vai dar... (pega no braço dela)
Michelle: Ai meu braço.
Will: O que foi, machucou o braço?
Michelle: Eu doei sangue hoje de manhã e ainda está doendo.
Will: Você está pálida mesmo. Você falou com o médico?
Michelle: Não.
Will: É perigoso, tem que falar. Você doa sempre?
Michelle: Uma vez por mês.
Will: Você é doida. Não pode. Mulher só pode doar de três em três meses.
Michelle: Eu sei.
Will: Como o pessoal deixou?
Michelle: Eu tenho carteirinha  de doador falsa. Vamos comigo distribuir sopão?
Zé Ruela: Eu vou sair correndo purque de barriga vazia eu num consigo cantar, fazer prosa, num consigo faze nada.
Will: Está louca.
Michelle: Não, distribuir sopa é muito importante, você pode estar salvando uma vida.
Zé Ruela: Pode acreditar nisso!
Will: Estou falando da carteirinha falsa. Pode acabar morrendo de tanto doar sangue. Isso é perigoso.
Michelle: É nada, faço isso há muito tempo.
Will: Estou preocupado com você, arriscando a vida assim por causa dos outros, entregando sopão. Só falta você dizer que dá todo o seu salário para a  caridade.
Zé Ruela: Num precisa fala duas veiz. Tô aqui mocinha, tô aqui
Michelle: Claro que não, assim eu morro de fome. Dou só metade para o asilo  "Antigos Brotinhos".
Zé Ruela: Ah que pena!
Will: Perdeu o juízo de vez.
Michelle: E isso não é nada. Doei todas as minhas roupas que não usava mais. Pensa Will se 1/3 do mundo fosse igual a mim...
Zé Ruela: Acho que as suas roupas não vão me cair bem não, heim!? rs. Sai fora! Eu sou macho!
Will: ... Iria faltar hospício. Você precisa se tratar menina!
(passa  o médico da cabeça ao fundo)
Dr. Sócrates: Olha o médico da cabeça, conserto, ajusto, troco parafusos ... Por apenas dez reais. Olha o médico da cabeça.
Will: Olha aí o que você precisa. Arrumar sua cabeça de vento. Deve estar faltando parafuso.
Michelle: Que arrumar que nada. Ai meu Deus, acabei de lembrar. Eu disse que ia ajudar na reforma da igreja. Vem, vamos comigo. Você é forte, habilidoso e alto suficiente para pintar o teto.
Will: Não posso, tenho um encontro com a minha noiva. Nem pensar, não vou perder o filme.
Michelle: Vai sim.
Will: Não vou.
Michelle: Vaiiiiiii. (saem)
Cena 4
(Dr Sócrates está circulando no palco divulgando seus serviços, Rubi está andando pela rua com aspecto de perdida. Dr. atropela Rubi que deixa cair uma prancheta)
Rubi: Onde já se viu! Quase me atropelou. Não olha por onde anda?
Dr. Sócrates: Calma Senhora.
(Dr. Sócrates dá a mão para Rubi levantar enquanto Zé Roela observa o acontecimento)
Dr. Sócrates: Você tá que tá que tá bem?
Rubi: Eu tô que tô que tô bem.
Dr. Sócrates: Sou Dr. Sócrates, doutor da cabeça, conserto qualquer mal referente à cabeça, até mesmo essa sua viagem na maionese, isso é um problema sério!
Rubi: Como assim, viagem na maionese? Você me atropela e eu que estou com a cabeça ruim?
Dr. Sócrates: Tudo bem, minha senhora, pegue meu cartão, caso precise é só me procurar.
Rubi: Está bem, eu vou pensar.
(Dr. sai e Rubi observa o cartão e diz pra si mesma)
Rubi: Onde já se viu trocar uma cabeça! Ah, sei lá, isso parece ser interessante.
(Rubi sai de cena)
Cena 5
(Will falando sozinho)
Will: E essa mulher que não chega logo, tô doido pra ver o filme novo do Rambo que deve ser legaaaaaaaaallll. A gente marcou as 8h e já são 8 e 5, que raiva, já não basta aquela doida que me fez prometer que ia pintar a igreja no domingo, isso mesmo domingo.
(Will vai até o fundo e olha pra ver se Lizzie está vindo.)
Will:  Imagina no dia do casamento, tem que marcar com ela uma semana antes pra ver se ela chega a tempo.
Zé Ruela: Acho que ela num vem não. Mulhe é tudo assim mesmo, mais demora pa se arrumá, tem que passar batom blusk, brio e uma monte de porcaria.
(Lizzie chega por trás e tampa os olhos de Will)
Zé Ruela: Vixi Maria, num é que a muiê é bunitona mesmo! (Olhando para o público)
Lizzie: Adivinha quem é!
Will: Que adivinha o que, vamos logo que o filme já deve ter começado.
Lizzie: Não espera, tenho que te contar uma coisa.
Will: Depois você fala, o filme, o filme.
Lizzie: Não, é importante, é importante.
Will:  Ahhhh tá bom fala logo.
Lizzie: Lembra aquela prova que eu fiz na empresa!
Will: Lembro... (Will meio desanimado)
Lizzie: Praquela promoção que eu queria tanto.
Will: Lembro (Will mais desanimado ainda)
Lizzie: Passei! não é legal?
Will: Ohh, legaaaaaaall.
Lizzie: Agora a gente já pode casar, eu compro a casa, os carros, os móveis...
Will: Legaaaaaaaalll.
Lizzie:  Daí eu compro os berços dos nossos futuros bebês que agora dá pra gente encomendar, né?! Eu compro as roupinhas das meninas e dos meninos.
Will: Legaaaaaaal . Você vai ganhar mais do que eu, é isso?
Zé Ruela: Cuidado em rapaz – Cê vai virar Maria mole heim! rs.
Lizzie: É sim amor, daí a gente pode também sabe o que?
Will: Peraí amor, acho melhor a gente ir ver o filme e falar sobre isso depois.
Lizzie: Não bebe, vamos jantar naquele restaurante italiano, eu ganhei um adiantamento, da pra pagar, daí a gente já vai na loja de móveis que é do lado e já vê os berços.
Will: Você ficou louca é? Vai pagar tudo agora? O que os vizinhos vão pensar de mim sabendo que você vai sustentar a casa? Ganhando mais que eu? Isso é obrigação do homem sabia?
Lizzie: Mas que machista, quando a gente casar isso vai mudar viu.
Will: A gente só vai casar quando eu começar a ganhar mais que você.
Lizzie: Mas você tá me enrolando há 7 anos.
Will: E vou enrolar mais 7 se precisar e para de bobeira e vamos ver o filme do Rambo...

(Will pega Lizzie no colo e vai ver o filme)

Will: Que deve ser legaaaaaaaaaaaaaaallll.
Cena 6
(Rubi já está na sala, Jaqueline entra e a cumprimenta)
Jaqueline: Por que você não me esperou hoje?
Rubi: Vim na frente para agendar as reuniões e fazer o levantamento para o lançamento dos cosméticos.
Jaqueline: Quero que esse lançamento seja um sucesso!
Rubi: Só um pequeno detalhe que não te contei..... Como a concorrente baixou os preços para conquistar novos consumidores, vou ter que modificar a fórmula de um lote para lançar o produto no mercado e levantar nossa firma tendo lucros; No mês passado quase ficamos no vermelho!
Jaqueline: Você está louca! Vai modificar a fórmula e causar uma grande alergia nas pessoas! Vamos ficar no vermelho e ainda ter que pagar indenizações!
Rubi: Relaxa! Já pensei em tudo direitinho! Vai dar tudo certo! (Faz sinal de lucro). Você já notou como o povo anda estressado, “enfezado”, sim, pois enfezado significa cheio de fezes! Modificando a fórmula do cosmético o povo vai ficar bem aliviado e mais feliz!
Jaqueline: Que loucura! O cosmético é para rugas e você vai modificar?
Rubi: Claro! Só que o consumidor irá beber como laxante! Entendeu?
Jaqueline: MEU DEUS!!!
Rubi: Você está se desgastando á toa! Relaxa! Vou modificar a fórmula para que o povo tenha uma caganeira daquelas!!! Vai desentupir até a alma. Será uma cagança total!!!
Jaqueline: Você pirou de vez! Vamos ser processadas! Ficaremos com nossos nomes protestados e ainda falir a firma!!! Sem contar com a intoxicação nas pessoas, vamos ter que pagar indenizações!
Rubi: Calma! Calma! É só um pequeno lote de cinco milhões de unidades! Apenas para levantar uma grana boa, depois eu faço um antídoto e tudo volta ao normal. Confie em mim, dará tudo certo. Vou até o laboratório  tratar da modificação da fórmula e cuidar do lançamento do cosmético, ou melhor, do “laxante”. O mercado anda concorrido, precisamos fazer a diferença!!! 

(Rubi sai e Jaqueline fica na sala)
Jaqueline: Que loucura! Espero que ela não faça nenhuma burrada, vou confiar no que ela diz.
Cena 7
(Vivian e Giovanna entram em cena)
Giovanna: Mãe lembra aquele menino que veio me trazer em casa, o João?
Vivian: Ahaam.
Giovanna: Ele me convidou para uma balada, posso ir né?
Vivian: Claro que não, balada tem aquelas pessoas se esfregando, tem drogas, bebidas, pessoas que não prestam.
Giovanna: Oh, saco em mãe, deixa eu ir no show então, com aquela banda que está entrando no mercado agora, oportunidade de divulgação para eles mãe.
Vivian: Show? Não mesmo. Está louca? Muita gente, o dobro dos problemas dessas baladinhas, esquece.
Giovanna: Então vou no barzinho, nada de mais, até mais mãe!
Vivian: Ei, Giovanna volta aqui.
Cena 8
(Michelle entra preocupada)
 Michelle: Não sei mais o que fazer, meu dinheiro está acabando, daqui a pouco não vou mais ter como ajudar as pessoas, preciso pagar minhas contas também. Como vou arrumar mais dinheiro? Esse meu emprego não está mais dando.....
(Dr. Sócrates entra anunciando seus serviços. Michelle fica observando bem o que ele fala)
Michelle: Será que minha cabeça está com algum defeito?
(Michelle continua observando o doutor)
Zé Ruela: (fica observando)
Michelle: Boa tarde Doutor.
Dr.Sócrates: Boa tarde minha jovem. Em que posso ajudá-la.
Michelle: Doutor... Estou com problemas e não sei mais como resolvê-los.
Dr. Sócrates: Que tipo de problemas?
Michelle: Meu dinheiro está acabando, não tenho mais como ajudar as pessoas, tenho minhas contas pra pagar, preciso comprar umas poucas peças de roupa, pois doei as que tinha pra pessoas mais necessitadas e fiquei sem.
Dr. Sócrates: Realmente você deve estar com algum defeito nessa cabecinha. O que eu posso fazer é tentar consertá-la.
Michelle: Mas isso custa muito caro?
Dr. Sócrates: Não, apenas R$10,00.
Michelle: Nossa é barato mesmo doutor. E o senhor pode fazer isso agora?
Dr. Sócrates: Claro, eu vou tirar a sua cabeça e no lugar vou colocar uma provisória de papelão, dentro de uma semana sua cabeça estará pronta, aí você passa aqui mesmo, no meu consultório móvel que eu destroco.
Michelle: Nossa, super rápido. Vou querer consertar minha cabeça então doutor.
Dr. Sócrates: Pois bem, sente-se aqui.
Michelle: Vai doer doutor?
Dr. Sócrates: Não dói nada, podemos começar?
Michelle: Claro.
 (Dr. Sócrates começa a troca, Michelle dá um grito e está tudo pronto)
(Zé Ruela acompanha de perto a troca da cabeça, muito curioso).
 Dr. Sócrates: Prontinho, está terminado.
Michelle: Nossa, Doutor estou me sentindo bem melhor agora, pago quando retirar.
Dr. Sócrates: Sem problema. Dentro de uma semana você volta que sua cabeça já vai estar pronta.
Michelle: Estou vendo tudo tão cor de rosa.
Dr. Sócrates: Vai ficar assim por umas duas horas.
Michelle: Em uma semana nos veremos de novo. Obrigada.
Dr. Sócrates: Até mais ver.
(Michelle sai de cena, Dr.Sócrates monta em sua bicicleta e sai anunciando seus serviços)
Cena 9
(Will e Lizzie saindo do cinema)
Will: Não entendi nada, não entendi nada. Perdi 5 minutos do filme, quando apresentam o vilão, porque o vilão é Mara, o vilão é legaaaaaaaaaaalll. E mais de 500 pessoas morreram no filme e eu não vi o Rambo matar. Tudo por causa de quem?
Lizzie: Ah, não sei por que tá reclamando, você dormiu na metade do filme.
Will: Também, já tinha perdido 5 minutos do filme, o que mais tinha pra ver?
Lizzie: O Rambo morrendo no final, por exemplo?
Will: O Rambo??? Não acredito. É tudo culpa sua, você me atrasou.
Lizzie: Mas é que eu queria te contar sobre a minha promoção.
Will: Blá blá blá minha promoção. Grande coisa sua promoção, você vai ganhar mais que eu e tá toda feliz não sei por quê. Isso não é legal.
Lizzie: É sim, por que a gente vai poder casar depois de 7 anos que a gente namora, 7 anos lembra?
Will: Se lembro? 7 anos, foi legaaaaaaaaaalll. Mas você não ouviu o que eu disse na outra cena? Eles ouviram. A gente só casa quando eu ganhar mais que você.
Lizzie: Mas amor, a gente namora há tanto tempo, e isso vai ser ótimo pra gente, por que você não quer? Me dá um bom motivo.
Will: Ah é, então lá vai seu motivo. Meu bisavô cuidou da minha bisavó, meu avô cuidou da minha avó, meu pai cuidou da minha mãe, imagina nosso filho na escola dizendo pros amigos dele. Quem usa saia em casa é meu pai.
Lizzie: E você vai ligar pra isso amor? A gente se ama tanto, e a gente quer tanto casar a tempos, você não vai fazer isso comigo agora depois de tudo que a gente passou pra ficarmos juntos né? Você enfrentou meu pai, minha mãe, todos pra ficar comigo já que eles te achavam um ignorante. Casa comigo bebê?
Will: Casa comigo bebê? Você vai ter 3 opções beeeeebê. 1- você larga seu emprego, 3- você larga tuuuuudo isso (Will falando de si mesmo), 5- você dá um jeito nessa cabeça oca. Por que só louco conta o fim do filme pros outros.
Lizzie: O que tem de errado com minha cabeça?
Will: O Rambo morreu? Não é possível.
(Lizzie sai magoada)
(Zé Ruela conversa com Will
Zé Ruela: Óia meu rapaz, tava brincando com a sua cara, mas a sua noiva parece ser uma mulher muito especial heim, presta atenção heim!
Will: Não me enche o saco seu Zé Roela! É só o que me faltava, um mendigo se metendo na minha vida.
Zé Ruela: Õxi, mas como você sabe meu nome?
(Will sai dando gargalhadas ironizando)
Will: Zé Ruela lá é nome de gente uahuahauah
Cena 10
Rubi: Você vai trabalhar divulgando nosso produto, ele é um lançamento...
Michelle: Porque você está falando baixo?
Rubi: Minha sócia não pode saber que estou contratando alguém para vender este produto, ela é contra.
Michelle: Se isso é trambique então to dentro. Quem é ela?
Rubi: Daqui a pouco te mostro, mas você não pode falar que estou te contratando pra vendas, vamos falar que é pra faxineira...Quero que você venda de porta em porta, é um super emagrecedor, é muito fácil de usar, basta à noite antes de dormir tomar meio vidro e ao acordar passar a outra metade do produto na barriga. Isso vai dar uma caganeira nas pessoas.
Michelle: Nossa que produto bacana.
Jaqueline: O que está acontecendo aqui?
Rubi: Jaqueline, essa é uma moça que estou contratando pra faxinar a empresa.
(Michelle puxa um pouco Rubi e faz uma fofoca)
Michelle: Essa é sua sócia?
Rubi: Isso (volta a falar com Jaqueline). Estou mostrando a empresa pra ela conhecer o ambiente de trabalho.
Michelle: Sou uma ótima faxineira, uso vassoura, rodo, pano... sabe aqueles cantinhos que ninguém limpa? Eu limpo tudinho, esfrego até com escovinha se for preciso e não jogo sujeira em baixo do tapete não. Tenho medalha de faxineira, troféu de faxineira, já ganhei até Oscar. Sou muito eficiente.
Jaqueline: Nossa, que faxineira excelente, por mim ela já está contratada.
Rubi: Pode deixar que vou contratá-la.
Jaqueline: Agora me deixa ir que tenho umas coisas pra fazer.
Michelle: Muito obrigada.
(vai olhar se Fernanda foi mesmo embora e volta)
Rubi: Será que ela acreditou em tudo isso?
Michelle: Relaxa, claro que acreditou. Conheço esse povo bobinho.
Rubi: Que bom, assim podemos fazer tudo sem problemas. Você vai trabalhar com comissão.
Michelle: De quanto seria?
Rubi: 2%.
Michelle: 2%? Se for pra ganhar isso prefiro ficar em casa dormindo.
Rubi: Mas é uma ótima quantia... (pensa um pouco) Está bem, 5%.
Michelle: Nem pensar, pouco ainda, tenho que convencer as pessoas a comprarem o produto.
Rubi: Eu não posso aumentar esse valor.
Michelle: Então nada feito, procure outra pessoa, isso se conseguir.
Rubi: Tá bom, 20%.
Michelle: O que? É pouco ainda, vou gastar sola de sapato, tenho que comer, pegar ônibus, convencer as pessoas....muita coisa pra essa mixaria. Se me der 40% te garanto que não vai se arrepender, vou vender muito.
Rubi: 40%? Ai meu Deus, é muito. (pensa) Está bem, espero não me arrepender depois.
Michelle: Relaxa.
Rubi: Eu vou lá ao estoque pegar os produtos e já volto.
Michelle: Tudo bem.
(Esmeralda sai e Michelle fala para a platéia)
Michelle: Vou ganhar 40%, pôr ela no pau por eu trabalhar sem registro e ainda por cima vou denunciar ela pro Ibama, Onu, Anvisa, Ambevi, Vigilância sanitária, Procon, Receita Federal, Direitos Humanos, Anatel, Disque denúncia...
Rubi: (entra) Aqui está um lote e seu crachá, vamos indo que vou te acompanhar até a porta, não se esqueça que temos muito mais...
Cena 11
Dr: Sócrates: ...cleptomania, miopia, esquizofrenia, hipocrisia, paixão mal resolvida, falta de juízo, de memória, de inteligência e de talento...!
(Entra Lizzie)
Dr. Sócrates: Bom dia Senhora.
Lizzie: Bom dia!
Dr. Sócrates: Gostaria de tomar uma decisão que mudaria toda a sua vida?
Lizzie: Não sei...
Dr. Sócrates: E se eu lhe disser que possuo o poder cataclísmico de dar tudo que sonhar?
Lizzie: Mas como isso é possível?
Dr. Sócrates: É simples, você deixa a sua cabeça comigo para fazer os reparos necessários, você sabe, né? Ninguém está livre de ter parafusos frouxos hoje em dia, as pessoas estão sempre precisando de alguns ajustes, ontem mesmo coloquei dois parafusos na cabeça de um desmiolado.
Lizzie: Você é um médico louco isso sim!
Dr. Sócrates: É o que todos dizem quando me conhecem, mas nunca ninguém voltou para reclamar, estou seguindo um pensamento Aristotélico com fortes influências das ciências médicas e ocultas, o reparo da cabeça é a mais fantástica invenção do século XXI, que é minha, diga-se de passagem, aliás, mês que vem vou me inscrever para o prêmio Nobel da Paz. Mas o fundamental é ver e não enxergar, você já viu e não enxergou?
Lizzie: Dârrr, é óbvio que eu vejo e enxergo, é tudo a mesma coisa... Acho que você é uma farsa.
Dr. Sócrates: Sabe o Silvio Santos?
Lizzie: Sim.
Dr. Sócrates: Fui eu que consertei a cabeça dele, se ele é o que é hoje é por minha causa, foi um de meus primeiros pacientes, taí, homem rico, bem sucedido, e não tem uma só senhora que não seja apaixonada por esse virtuoso comunicador.
Lizzie: Nossa, é mesmo? Fiquei curiosíssima, me conta mais.
Dr. Sócrates: Sabe o Rei Roberto Carlos? Esse é o meu maior orgulho, era um nada, hoje é tudo! Ele é amado e idolatrado no Brasil e no mundo, eu que ajustei o tom da voz dele. Quer ser querida também?
Lizzie: Nossa... que fantástico!
Dr. Sócrates: Que sorte a sua! Sente-se no meu consultório móvel!
Lizzie: O que você vai fazer?
Dr. Sócrates: Fique tranqüila, em instantes você será aceita por todos! Será feliz!
(Zé Ruela fala para Lizzie)
Zé Roela: Ocê tem certeza que qué repara sua cabeça, eu acho que ela é muito boa, num precisa de nenhum reparo não!
(Lizzie Ignora o Zé Ruela)
(O médico faz a troca da cabeça por uma de papelão, no palco mesmo)
Dr. Sócrates: Pronto. Olhe nesse espelho!
Samantha: Fiquei linda. Quanto custa o serviço?
Dr. Sócrates: R$10,00
Samantha: Obrigada. (Ela paga o serviço e saindo de cena o médico fala)
Dr. Sócrates: Vejo-lhe daqui dois dias nesse mesmo lugar para devolver sua cabeça com os devidos reparos.
(Dr Sócrates sai anunciando...)
Cena 12
Will: E então Michele, faz um tempinho que não te vejo, percebi que você tá diferente.
Michelle: Diferente? É sim, eu to diferente! (Michele com ar de superioridade)
Will: É! Tá mais solta, descontraída...
Michelle: Resolvi mudar o visual, chutar o pau da barraca. Ah! E sobre aquilo que você me falou, problema resolvido.
(Zé Ruela observa preocupado a atitude de Michele)
Will: Como assim? Do que você ta falando?
Michelle: Sobre a nossa conversa daquele dia! Eu pensei muito e consegui resolver o problema de uma vez só, foi tão fácil, uma pequena mudança e acabou tudo, aquela Michelle caridosa já era, agora quem ta no comando é uma nova mulher, sem medo e com a “CABEÇA” finalmente no lugar. (Michele fazendo sinal de aspas com as mãos)
Will: Sério? Mas assim tão fácil? Se eu soubesse tinha dito aquilo pra você há muito tempo. Mas o que fez pra mudar assim tão rápido? Tô curioso pra saber como você se transformou desse jeito.
Michelle: Ah! Isso meu amigo, eu não vou contar não, vai continuar curioso, rsrs!
Will: Tudo bem então, mas estou orgulhoso de você. Finalmente abriu os olhos e achou o caminho certo, vamos embora?
(Will deixa a carteira cair e Michelle abaixa para amarrar o sapato e pega a carteira sem ele perceber)
Will: Tudo bem Michelle?
Michelle: Claro! Só estou amarrando o sapato.
(Lizzie entra em cena)
 Lizzie: Oi amor, preciso falar com você. Oi Michelle tudo bem?
Michelle: Tudo bem.
Will: Michelle. Depois a gente se fala ta bom?
Michelle: Claro Will, qualquer coisa me liga, tchau Lizzie, que bom te rever.
Lizzie: Tchau Michelle.
Will: Valeu Mi.
Lizzie: E aí, ta mais calmo?
Will: Um pouco, chorei a noite toda, to até desidratado.
Lizzie: Ah é? Eu tenho uma notícia que vai te animar, eu fui ontem no Doutor de cabeças fazer um orçamento sabe, e ele trocou minha cabeça e deixou essa aqui enquanto ele conserta a minha.
Will: E onde minha animação entra nessa história?
Lizzie: Depois que ele trocou minha cabeça eu pensei um pouco e tomei uma decisão, eu vou largar o emprego.
Will: Não brinca! Está falando sério? Não está zuando? Tem certeza? Não creio? Você está certa disso?
Lizzie: Claro, fiz esse sacrifício por você, pra te ver feliz.
Will: Ah gata, você vai ver que isso é o melhor pra gente, estou tão feliz que vou pessoalmente agradecer esse doutor, ele fez um milagre.
(Zé Ruela continua preocupado)
(Os dois começam a rodar ciranda e falam pra platéia)
Will: Agora sim eu consegui, dominei a mina.
Lizzie: Agora sim eu consegui, dominei o cara.
Will: Ela vai comer na minha mão.
Lizzie: Eu vou comer o limite do cartão dele.
Will: Ela vai ficar arrumando a casa toda.
Lizzie: Eu vou encher o guarda-roupa.
Will: Vai virar dona de casa.
Lizzie: Vou botar ele na brasa.
(Saem de cena)
Will: Amor, vou lá agradecer esse doutor por que ele é legaaaaaaalllll.
Lizzie: Vai lá meu bebê.
(Will sai de cena e Lizzie canta)
Lizzie: Até que enfim, até que enfim, arrumei um troxa que gosta de mim.
(Sai de cena)

Cena 13
Vivian: Giovanna, já disse e não vou repetir, esquece, não vai e pronto. Menina impossível.
Giovanna: Ai, que saco mãe, você é muita antiquada.
(Entra Lizzie, com cabeça trocada)
Giovanna: Nossa, mana, como você ta diferente, você troco a cabeça?
Lizzie: É troquei bem melhor né?
Vivian: Essa cabeça ai, não sei aonde é melhor.
Lizzie: É mãe, você deveria troca a cabeça também, estou tão bem agora.
Giovanna: Mãe troca a cabeça, vai fazer bem pra você e pra gente!
Vivian: Não sei não, to bem assim, minha panela está no fogo e você não vai sair, escutou Giovanna! Não vai.
(Vivian sai de cena)
Lizzie: Mana vem aqui que te ajudo a sair, para onde você quer ir?
Giovanna: Sério! Então mana...
(Giovanna e Lizzie saem de cena)
Cena 14
(Will entra em cena e esbarra em Vivian)
Vivian: Eeee...ah tinha que ser você.
Will: Oi sogrinha, tudo bem?
Vivian: Já disse que não gosto que você me chame assim.
Will: TPM é osso.
Vivian: Rararara, como você é educado, gente do seu nível não se pode esperar muito.
Will: Ai, rsrsrsrs.
(Pausa)

Vivian: É......você não vai naquela festa lá em casa né?
Will: Com certeza, assim que a Lizzie me convidou já confirmei minha presença. Comida de graça.
Vivian: De graça vai ser a encheção de saco.
Will: Nossa, como a Lizzie pode ser sua filha, você é o cão, sua velha chata.
(Rubi tentando perguntar as horas)
Vivian: E você é um completo idiota que não sabe contar, não sei o que minha filha viu em você.
Will: Ela viu foi tudo isso e gamou, e também, ao contrario de você eu sou legal.
Vivian: Por que você não vai embora e pára de me encher?
Will: Porque eu marquei hora, vai embora você.
Rubi: Oiiiiiiiiii, alguém tem horas?
Will e Viviam: Nãoooooooooooooo.
Rubi: Ai credo que gente grossa, da licença.
(Rubi vai embora)
Vivian: Vai embora Will. Porque você não volta pra escola?
Will: Assim que eu casar com a Lizzie vou trancar você em um asilo.

(Vivian entra na sala e Will vai embora)

Cena 15

(Michelle entra anunciando o produto)
 
Michelle: Venham experimentar, estou lançando um produto revolucionário que vai mudar a sua vida. É para senhoras, senhores, crianças, adolescentes....para todas as idades. Venham experimentar, venham, venham, venham...

(Zé Ruela observa o produto e vai mostrando pra platéia)
 
(Will de trás de um biombo fala)
 
Will: Michelle? Estou vendo que você está se dando bem nesse seu novo emprego. Este produto é bom para criar músculos?
Michelle: Com Certeza, em pouco tempo você vai deixar de ter essas bisnaguinhas ai e vai ter um pão francês.
 
(Vivian chama Michelle de outro biombo)
 
Vivian: Ei moça, esse produto é rejuvenescedor? Dá uma esticada na pele?
Michelle: Absolutamente, ele é ótimo para essa função.
 
(Michelle continua anunciando o produto, todos vão saindo de trás dos biombos e começam a aglomerar nela para comprar o produto)
 
Michelle: Calma pessoal, tem para todos. Para eu poder atender a todos preciso que vocês se organizem em uma fila. Isso, bem bonita. O primeiro, por favor, pode vir.
Will: Oi Michelle, isso que você tem ai faz crescer músculos mesmo?
Michelle: Claro, em uma semana você vai se achar o Rambo.
Will: Rambo? Legaaaaaallll, quero dois, quanto dá?
Michelle: R$40,00. Muito obrigada. Próximo.
Lizzie: Oi, tudo bem?
Michelle: Tudo! Em que eu posso te ajudar?
Lizzie: Pra que serve esse produto?
Michelle: Você quer para que? Ele tem várias funções.
Lizzie: Preciso pegar uma corzinha, estou parecendo um papel sulfite.
Michelle: Esse remédio é perfeito para isso, você vai ficar linda.
Lizzie: Então eu vou querer um.
Michelle: Aqui está.
Lizzie: Quanto custa?
Michelle: R$15,00, baratinho, né!?
Lizzie: Então tó.
Michelle: Você vai ficar da cor do Will.
Lizzie: Obrigada, tchau.

(Jaqueline tentando parar com a venda)

Jaqueline: Conheço ela de algum lugar.
Rubi: Claro que não. Vamos você tem que assinar uns papeis lá no escritório.

Zé Ruela: Meu deus a casa vai cair! Eu quero ver o circo pegar fogo!

Giovanna: Olá, estou precisando de um produto que me faça crescer, este ajuda?
Michelle: Crescer para onde? Pra frente, pros lados....?
Giovanna: Não, para cima, esse produto faz efeito mesmo?
Michelle: Este produto é ótimo para seu problema.
Giovanna: Quanto tempo demora para eu perceber o resultado?
Michelle: Em cinco dias.
Giovanna: E é muito caro?
Michelle: Apenas R$80,00.
Giovanna: Nossa que caro, não tem como você fazer um desconto?
Michelle: Dessa vez não vai dar, da próxima vez que você comprar dá.
Giovanna: Então eu vou querer um só. Aqui está o dinheiro.
Michelle: Obrigada, volte sempre. Próximo.

(Rubi tentando tirar Jaqueline da fila)

Rubi: Vamos logo, temos muita coisa para fazer.
Esmeralda: Mas eu ainda acho que conheço ela de algum lugar.
Vivian: Se esse produto serve mesmo para rejuvenescer vou querer dois, não três, quer dizer quatro. Quanto fica?
Michelle: R$160,00. Amanhã mesmo você vai se sentir mais jovem, o efeito dele é muito rápido.
Vivian: Ótimo, estou precisando disso mesmo. (Dá o dinheiro para Laila)
Michelle: Aqui está seus produtos e muito obrigada. Próximo.
Dr. Sócrates: Nossa, estou com uma dor de cabeça, esse remédio cura isso?
Michelle: Claro doutor, é um ótimo analgésico, cura na hora. Seus pacientes vão adorar.
Dr. Sócrates: Mas é bom mesmo? Você já experimentou?
Michelle: Mas é claro Doutor, o senhor acha que eu iria vender um produto que eu não conheço! Jamais.
Dr. Sócrates: Se você está falando então eu confio. Quanto custa?
Michelle: Para o Doutor que já é meu conhecido, R$120,00.
Dr. Sócrates: Nossa, mas é muito caro.
Michelle: Este produto é muito eficiente e prático, por isso o valor alto.
Dr. Sócrates: Vou querer dois. Está aqui seu dinheiro e passa lá no meu consultório depois de amanhã, sua cabeça já vai estar pronta.
Michelle: Pode deixar Doutor, depois de amanhã vou lá sem falta. Obrigada. Próximo.
Jaqueline: Parece que te conheço!
Michelle: Não, não.
Jaqueline: Você trabalha de faxineira né?
Michelle: Sim, sou faxineira. A senhora está precisando de uma faxina na sua casa?

(Rubi tentando despistar e tirar a atenção de Jaqueline puxando outros assuntos)

Jaqueline: Eu conheço esse rótulo! Esse produto é nosso, que absurdo. Como você pode estar vendendo em praça publica. Quem te deu permissão para isso?
Rubi: Calma, vamos conversar, preciso te explicar. Vamos fazer uma reunião lá na empresa.
Zé Ruela: Moiô!

(Saem de cena)

Cena 16

Will: Nossa, agora sei por que minha mulher é tão gostosa.
Vivian: Ué, por que?
Will: Minha sogrinha é a coroa mais enxuta da cidade.
Vivian: Rsrs, você também é um moço muito bem abençoado meu genrinho, minha filha tem muita sorte.
Will: Mas você também pode ter essa mesma sorte, é só você querer.
Vivian: Mas e a Lizzie? Vai abandonar ela?
Will: Nada, o que os olhos não vem o coração não sente, e também, a Lizzie ta mais preocupada em gastar com roupas do que os enfeites que ponho na cabeça dela.
Vivian: Não sei não em meu genrinho. (Vivian se fazendo de difícil e alisando Will)
Will: Vamos sair agora Vivian, uma balada, só eu e você pra gente se divertir um pouco.
Vivian: Humm, uma balada não faz mal a ninguém né? Vamos sim.

(Chega Giovanna e fala um monte)

Giovanna: Mas o que é isso mãe? Você vai sair com ele? E a Lizzie?
Vivian: Calma filha.
Giovanna: Calma nada, você nunca me deixou sair e agora você vai sair com ele? Não vai não mãe. Pra onde vocês vão?
Vivian: A gente só vai para uma balada na cidade, quer ir também? Eu te levo Giovanna.
Giovanna: Mas você vai para aquelas baladas que só tem drogados e bêbados igual você disse pra mim mãe?
Vivian: Mas eu mudei de idéia filha, essas baladas são ótimas, vem com a gente.
Giovanna: Não mãe, isso não está certo, vou contar tudo pra Lizzie.
Will: Pô cunhadinha, relaxa, vamos com a gente, você acha que a Lizzie vai acreditar em você ou na gente, vem comigo vem, quer uma graninha?
Giovanna: Que graninha o que? Eu vou contar tudo pra ela e vai ser agora.

(Giovanna sai correndo)

Will: Ah deixa ela, a Lizzie não vai acreditar mesmo, vamos sogrinha que a noite vai ser boa.
Vivian: Demorou genrinho, vamos a farra.

Cena 17

Giovanna: Lizzie, espera, preciso falar com você.
Lizzie: Agora não dá, vou sair.
Giovanna: Mas é sério.
Lizzie: Não dá, depois você fala, vou no shopping fazer umas comprinhas. Tchau.
Giovanna: Lizzie!!!!
Lizzie: Depois.

(saem de cena)

Cena 18

Jaqueline: (entra) Não estou bem, está tudo errado, vou me matar. (Pega uma sacola e coloca na cabeça)
Rubi: (entra desesperada) Que loucura é essa! O que você está fazendo?
Jaqueline: Eu vou me matar porque deu tudo errado, recebi 85 milhões de emails, 4,5 mil pessoas ligaram, está tendo passeata na porta da empresa, eu vou me matar.
Rubi: Você está ficando popular e quer se matar? Onde já se viu!
Jaqueline: Popularidade? Estamos falindo, com vários processos nas costas e você chama isso de popularidade? O povo está com uma caganeira danada. Não estou agüentando a pressão.
Rubi: Você precisa tirar uns dias para descansar. Porque você não vai para minha casa na praia.
Jaqueline: Que casa?
Rubi: Aquela maravilhosa que falei pra você, com dez quartos, cinco banheiros e uma piscina enorme. Eu vivia sonhando com ela, e também servirá para guardar os produtos da empresa.
Jaqueline: E está no nome de quem?
Rubi: No meu, quer dizer...nosso nome.
Jaqueline: E com que dinheiro você comprou?
Rubi: Fiz um empréstimo.
Jaqueline: Aquele dinheiro que sumiu da empresa, cinco milhões de dólares...
Rubi: Ééé... foi um pequeno empréstimo, mas em três meses eu devolvo. Tenho vários amigos que podem me ajudar.
Jaqueline Aqueles trambiqueiros?
Rubi: São amigos chegados meus, fique tranqüila. Vá para lá, descanse uns dias enquanto eu resolvo tudo.

(Jaqueline vai para o fundo da sala e Rubi fica na frente)

Rubi: Preciso deixar ela viva, se ela morrer estou perdida. Vai cair tudo nas minhas costas. Aquele doutor!!!! Preciso dar um jeito nisso.

(Enquanto isso Jaqueline está tentando se matar e Rubi corre para salvar)

Rubi: Você está louca? Não pode acabar com sua vida, você é muito importante para mim. Você realmente não está bem, precisa de um médico. Sabe aquele médico que encontrei na praça? Ele me pareceu ser muito bom. Vamos até lá, ele pode nos ajudar a resolver nossos problemas.


Cena 19

Will: Vivian, a balada foi tão boa, né?
Vivian: E como foi boa, temos que ir mais vezes...Aqui ta desarrumado.
Will: Sério, arruma pra mim então.
Vivian: Claro.
Lizzie: Boa noite pessoal.
Vivian: Filha não ta acontecendo nada aqui.
Will: Verdade nada de errado. Relaxa!!!Relaxa!!!
Lizzie: Tudo bem gente! Eu comprei umas coisinhas pra vocês.
Giovanna: Mana o que está acontecendo? Você não viu, ele ta dando em cima dela e ela em cima dele. Você não viu?
Lizzie: Calma maninha. Eu vi mas relaxa, estamos em família. Que estreasse.  Trouxe uma coisinha pra você também, não se preocupe. Você vai ficar tão linda. Espero que goste!
Giovanna: Eu não quero nada. Só quero entender o que está acontecendo.
Lizzie: Relaxa...Estamos em família. Will você paga um rodízio de churrasco?
Will: Tudo que você quiser meu amor.
Lizzie: Então vamos, vem com gente Gi.
Giovanna: Não quero, essa família é doida. Maluca!!! Ele com ela, ela com ele e ele com as duas. Não agüento mais. To ficando doida.
Vivian: Filha se acalma! Vamos com a gente.
Giovanna: Vou nada!! Minha cabeça vai explodir...Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh

Cena 20: Balada: (A Laila irá reescrever com a ajuda do Grupo)

(Zé Ruela arruma um jeito de entrar escondido na balada e observar o ambiente, no início ele gosta da música, da festa, porém depois observa que as pessoas já não se importam com nada e ninguém, tenta conversar desesperadamente com as pessoas, tentando evitar o pior, porém novamente é ignorado. As pessoas vão embora e o Zé Ruela fica na rua muito triste.)

O pessoal, que qui tá acontecendo aqui? Vala-me nossa Senhora do Perpétuo Socorro, rogai por nós! Rogai- por este povo pecador.

Cena 21: Conversa do Zé Ruela com o Doutor de Cabeças.

Doutor de Cabeças aparece na praça. Zé Ruela corre desesperado para conversar com o Doutor.

Zé Ruela: Dotô, Dotô! Tõ precisando falâ urgente cu sinhô, é questão de vida ou morte!

Doutor: Pode falar, claro.

Zé Ruela: Eu tô muito preocupado quesse povo brasileiro! Eles tão perdendo a noção do rídículo, tá faltando vergonha na cara, nois num pudemo dexa isso acontecer, o sinhô é o único que pode nus ajuda.

Doutor: Mas isso nunca aconteceu, esta minha teoria e testada e comprovada, sou muito experiente nesta área, já passei pelo mundo inteiro, fique tranquilo dará tudo certo! Veja as minhas experiências com as cabeças. (Abre o seu painel de cabeças) E explica uma a uma.

Zé Ruela: Esse é o pobrema dotô nós tamo nu Brasil, o sinho nunca ouviu falar no jeitinho brasileiro?

Doutor: Mas eu só queria ajudar as pessoas, colocar a ciência a favor do povo, curar as suas doenças, não vejo nenhum mal nisso, porém eu disse para as pessoas ficarem temporariamente com a cabeça de papelão enquanto eu fizesse o reparo na cabeça delas, mas achei estranho que ninguém veio destrocar as cabeças.

Zé Ruela: É engraçado né, como as pessoas são, se preocupam com tanta coisa inútil. Vê as coisas mas não enxergam não!. I u piô é que eu acho que eles não vão querer distroca as cabeça!
Eita povinho ingnorante!
Depois ainda dizem que eu que sou um Zé Ruela! Coitado deles! Eu posso num se estudado, num fala direito, num escrevo direito, mas tenho certeza que eu enxergo muitho mais a vida do que muitha gente!

Eitha povinho, será que um dia nós vai pra frente? Acorda pá cuspi!

Toca-se a música Brasil: ou Zé Ruela canta a música!

Todos os personagens da peça brincam entre si, dançando e se divertindo. (Sátira)
(Fazer uma coreografia usando as cabeças de papelão).





Brasil
Cazuza
Composição: Cazuza / Nilo Roméro / George Israel
Não me convidaram
Pra esta festa pobre
Que os homens armaram
Pra me convencer
Apagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada
Antes de eu nascer...

Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta
Estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito
É uma navalha...

Brasil!
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil!
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim...

Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram
Pra me convencer
Apagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada
Antes de eu nascer...

Não me sortearam
A garota do Fantástico
Não me subornaram
Será que é o meu fim?
Ver TV a cores
Na taba de um índio
Programada
Prá só dizer "sim, sim"

Brasil!
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil!
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim...

Grande pátria
Desimportante
Em nenhum instante
Eu vou te trair
Não, não vou te trair...

Brasil!
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil!
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim...(2x)

Confia em mim
Brasil!!