viernes, 18 de enero de 2008

E o professor torna-se eventual

Eis aí um Artigo que lí pela internet e me identifiquei muito, leia e seja contaminado também!

Antes de tecer quaisquer comentários, devo salientar que reconheço a atual situação econômica nacional: crítica para uma grande maioria. Reconheço também a cada vez menor oferta de empregos ao nosso redor e mesmo distante de nós. Ingredientes como estes fatalmente conduzem uma sociedade, inevitavelmente capitalista, à sujeição a tudo e à as sujeitação na vida. Uma prova triste e extremada disto assistimos há tempos nos jornais, os quais às vezes resolvem denunciar mazelas como a escravidão, há muito abolida, mas presente mais do que imaginamos. Assistimos ao caso de homens que para alimentarem-se entregavam-se aos mandos e desmandos de Senhores inescrupulosos que pagam salários-miséria e cobram valores absurdos em simples produtos no interior de estados do Nordeste. Logo, a dívida condena o homem a ser escravo, por sua, talvez, própria moral, mas sobretudo pela subsistência. Os jornais mostram o nordeste e o norte do país, onde estes fatos são mais evidentes e mais gritantes são as situações. Mas e a cem metros de nossas casas em cidades do rico sudeste? Quantas pessoas desempregadas, para ganharem um mínimo que seja, aceitam condições absurdas de emprego ou mesmo de um simples ?bico?? Enfim, o perfil econômico e sócio-econômico de nossos dias configuram condições críticas no que diz respeito à luta pelo pão nosso de cada dia. Precisamos viver, precisamos sobreviver neste mundo selvagem. Então, o que tratarei aqui não condena pessoas, seres humanos, mas sim instituições, mas sim o poder invisível, que determina os destinos. Condeno os vilões invisíveis que existem em nossa sociedade, os quais, em educação, acabam por determinar quem é e o que é o professor. Ser professor até meados do século passado, ou melhor, até final da década de sessenta, representava possuir uma posição privilegiada na sociedade, com bom status econômico e com elevada condição intelectual. O professor era respeitado e reconhecido. Neste tempo, quem ia para a escola eram filhos das classes médias e altas, assim, a educação formal, escolarizada, era para poucos. E o professor era reconhecido por estas classes. A grande massa era mão-de-obra de indústrias, que não exigia grande instrução, pois as funções eram puramente mecânicas no chão de fábrica, bastava ter decorados os movimentos e torná-los automáticos. A esta época, grandes indústrias eram aquelas que possuíam trinta, quarenta mil funcionários. Os tempos mudaram, hoje vemos grandes indústrias com ?meia dúzia? de pessoas. Vejamos, com a crescente mudança no perfil do trabalhador, que progressivamente teve que adquirir novos conhecimentos aos seus ofícios, passou-se a exigir diplomas e certificados de órgãos oficiais a fim de que fossem selecionados melhor os ingressantes no mercado de trabalho e fosse dada uma justificativa ao crescente número de excluídos, ou seja, a escola passou a receber mais gente, e mais gente de classes menos favorecidas economicamente. Surgem expressões como democratização do ensino, alfabetização em massa etc. Aquele professor respeitado começa a receber golpes fortíssimos à sua condição: mais alunos por sala, pois foram aumentadas as vagas, mas não contratados proporcionalmente novos professores; redução nos ganhos por mesmo trabalho, o que o força a quase dobrar a carga horária para manter mesmo rendimento; cresce o número de alunos que necessitam de acompanhamento, porque vêm de ambientes com pouco contato com as práticas letradas, com a escrita, com a informação etc; enfim, alteram-se quase que totalmente o ambiente escolar e as condições de trabalho do professor. Com as mudanças não lhe sobra muito tempo para o preparo das aulas e eis que entra em cena o livro didático, até com respostas prontas no livro do professor para que este sequer tenha que perder tempo na procura destas respostas. Muda-se o modelo de aula e de ensino. A figura do professor começa a sofrer uma alteração junto à sociedade. Inevitavelmente o número de professores tem de aumentar e estes passam cada vez mais a sentarem diante dos alunos apenas para reproduzirem o que o material didático manda. Eis uma forma de se controlar o que se ensina e o que não se ensina. A classe docente definitivamente entra numa depreciação, que desenrola-se num intervalo de vinte, trinta anos. Aquela autoridade intelectual torna-se uma mera figura. Mas não quero falar deste meandro e sim desta figura hoje, quando um novo elemento surge: a falta de professores. Com a depreciação da profissão, pessoas deixaram de querer ser professor. Menos pessoas formam-se professores, os que se formam já não encontram tanta qualidade em sua formação e tudo torna-se ainda mais crítico. Por outro lado, os órgãos oficiais que regulam e promovem a educação não querem alunos fora da escola, muito menos sem aulas: dá-se vida ao professor eventual. Quem é este? É aquele que, como diz a adjetivação, de vez em quando é professor, que ocorre algumas vezes, em certas ocasiões. Quando precisam dele. Não é necessário ser formado, pode estar estudando ainda, mesmo que seja nos primeiros anos de faculdade. Não é necessário ter conhecimento específico, a aula que tiver vaga ele dá. O formando em Letras pode estar na sala de aula falando de termodinâmica, cálculo estequiométrico etc etc etc. Que professor é este? De onde ele vem? Triste, mas pode ser qualquer um. Alguém que resolveu ser professor hoje porque acordou com disposição e necessita de dinheiro. Tem de necessitar, pois as adversidades são grandes. Será este o professor do futuro? Figura descartável, que se encontra aos montes na fila dos desempregados? Triste situação, pois os órgãos oficiais de educação não estão preocupados com o estatuto de um professor, tampouco se este é valorizado ou não, se possui dignidade ou não. Estes órgãos querem apenas números que sejam também oficiais, mas não necessariamente legítimos. Assim o Estado, num cumprimento de recomendações financeiras internacionais, empurra o indivíduo para dentro da escola; as direções de escola, juntamente com inspetores de alunos, empurram estes para dentro da sala de aula; e o professor tranca a porta e suporta a bagunça estabelecida. Particularmente, experimentei dois dias em minha vida como professor eventual. Como opção pessoal, imbuído de um desejo de ajudar a educação pública brasileira, aceitei apenas aulas de português em dias subseqüentes. Descobri que a professora efetiva, a qual eu substituía, nem tinha falado em literatura com alunos de terceiro ano do ensino médio, isto já com mais de um mês letivo. Esta professora faltava eventualmente para professores eventuais substituírem-na, e não tirava licença com medo da direção da escola trocá-la por outro professor efetivo, pelo menos foi o que me narraram seus alunos. Já com a oitava série do fundamental minha experiência foi crucial para eu entender o que é ser professor eventual: um pajem que tem por função manter os alunos dentro da sala, não necessariamente quietos, nem necessariamente aprendendo, e que de vez em quando dá alguma atividade, a qual nem sabe se será considerada pelo professor titular. Ao final de um dos dias em minha experiência eventual pude trocar palavras com uma colega em mesma condição: uma mulher com aspecto de bastante cansada, com voz desgastada e reclamando que naquele dia não pôde ir para sua aula em segundo ano do curso de Letras, pois dera quatorze aulas eventuais, que foram desde o português até a difícil física. Eu não tinha muito o que falar àquela mulher. Expresso-me agora neste texto, que, espero, possa servir ao menos como ponto de reflexão em torno desta questão. Sou professor porque tenho paixão em dar aula. Gostaria que todos pudessem sentir o mesmo e que ser chamado de professor voltasse a ser algo respeitável, não pelo status econômico, mas sim pela importância de seu papel em nossa sociedade.

Artigo do Prof. Jovir sobre Professor Eventual