martes, 24 de noviembre de 2009

Otelo - Adaptação na Cia do Nó

ROTEIRO – OTELO Foco carta, moira (Desdêmona – predestinada – maldição da família) Douglas Nascimento - Marcelo Caio do Monte Brandão - Thiago Aline Ferezin – Desdêmona ou Avó Fernanda de Castro – Desdêmona ou Avó Laila Cricca – Desdêmona - fantasma Samantha Aires - Roberta Marcela Gallinucci – Milena Amanda Massaro - Jorge Esmeralda Thomé - tia Texto: Renata e Esdras Domingos Prólogo Avó - Eu gosto das cartas: elas tem magia, brilho. Me aquece pensar que a pessoa que escreveu uma carta tirou um tempo de sua vida para se dedicar àquele pedaço de papel, que seu cérebro junto ao seu coração foi fiando, fiando e que a teia pronta se encontra ali, naquela carta. Lindo artesanato de letras. Coisa de mãe, quente colo materno. Nesse mundo de hoje, não temos mais tempo pra essas coisas. E-mails, os recados no Orkut, as mensagens no MSN são muito frágeis pois são feitos com a facilidade de quem estala um dedo. Uma carta não, uma carta tem cheiro de história, do bolor pálido, âmbar, da poeira que encanta, da Europa dos tempos antigos, do Mediterrâneo, suas gentes e tomates suculentos. As cartas também demoram a chegar e geram uma ansiedade teatral. Os e-mails não, tem a sua serventia, mas chegam na mesma hora, sem graça, nem expectativa, e ainda somem com facilidade, com um vírus qualquer ou uma simples clicada. As cartas não se perdem jamais, se você cuidar delas, as terá para sempre. Desdêmona fantasma - Aquela carta ali. Oh carta, cale-se. Não me contes nada. Quero quem sabe nunca te descobrir. Posso esperar um tempo, infinito enquanto dure e assim guardar sempre nesse tempo a esperança de algo bom que poderá acontecer a qualquer momento. Avó – Leia, filha. Leia. Desdêmona – Vó, que saudades. Avó – Tenho muitas histórias para te contar. Agora leia a carta. Desdêmona fantasma – Não, não leio. (sai correndo) Desdêmona fantasma não meche na carta e sai. As personagens vão entrando uma de cada vez. Uma pega a carta, os outros vão entrando e lendo a carta que passa de mão em mão e volta para o foco. Desdêmona viva olha para a carta. Marcelo entra. Cena 1 – Desdêmona e Marcelo Marcelo – Você tem a cabeça nas nuvens. Desdêmona – E os pés no chão. Olhe ao redor. Está tudo pronto, meu amor. Nos casamos daqui há dois dias e serei então a mulher mais feliz do mundo. Marcelo – Você fez tudo isso sozinha? Desdêmona – Minha tia me ajudou. Ela vai dormir aqui essa semana. Veio de tão longe coitada. Marcelo – Não gosto dela. Ela me olha de um jeito estranho. Desdêmona – Você é muito desconfiado. Deixe a minha tia em paz e se divirta com as nossas coisinhas. Vamos dar uma volta? Marcelo: Vamos. Quando? Desdêmona: Hoje. Marcelo: Hoje? De jeito nenhum. Não posso querida. Tenho muitas coisas para fazer. Você não quer ter uma lua de mel tranqüila? Desdêmona: Quero. Marcelo: Então? Desdêmona: Só um pouquinho. Estou muito tempo aqui dento, preparando tudo. Marcelo: Vá com a sua tia. Desdêmona: A minha tia já está dormindo e eu queria mesmo ir com você. Marcelo: Estou cansado, querida. Amanhã, nós vamos. Desdêmona: Vou dar uma volta então. Marcelo: Sozinha? Desdêmona: Sim. Por que? Marcelo: Por nada. Desdêmona: Até já. Marcelo: E aquela carta? Desdêmona: Que carta? Marcelo: Aquela ali. Desdêmona: Ah, sim. Aquela carta. Não sei. Recebi hoje. Estou guardando para abrir depois, na sexta-feira. É para dar sorte. Marcelo: Você tem cada coisa esquisita. Desdêmona: Eu me divirto, só isso. (Desdêmona sai) Cena 2 – Marcelo Marcelo: Rude sou de fala, estranho ao doce linguajar da paz. Sobre muito pouca coisa posso falar no vasto mundo se não for de batalhas e ferramentas. Disso entendo bem. Por isso, quando exponho assunto próprio, vindo de meu coração, não sei fazê-lo bem. Que drogas, que feitiços, que conjuros, que mágica potente usou essa mulher? Eu que vivi sempre só, preocupação nenhuma a não ser com meu próprio prato de comida, me vejo derretido, amarrado, obcecado. Ela se diverte. O que isso quer dizer? Ela se diverte. E essa carta ainda. Quem me dera poder seguir seu rastro, Desdêmona. Cena 3 – Marcelo, Thiago e Jorge Entram Thiago e Jorge, um de cada lado. Thiago - Marcelo e Jorge, que bom vê-los. Marcelo – Não foi trabalhar hoje? Thiago: Está perguntando como amigo ou como chefe? Marcelo – O que é isso, Thiago? Fiquei preocupado com você, de verdade. Você não costuma faltar sem avisar. Thiago: Eu estou muito indisposto. Estou com uma forte dor de cabeça. E você Jorge? E a nova sala, novo posto, tudo novo? Jorge: Estou muito feliz pela oportunidade que o Marcelo está me dando. É um grande reconhecimento. Thiago: Eu também estou muito feliz por você. Por vocês. Marcelo: Logo chega o seu dia, Thiago. Não me esqueci de você. Thiago: Não estou pensando nisso. Esquece. Marcelo casa sábado! Viva! Marcelo: É isso aí, estou transbordando de felicidade. A Desdêmona é a parte que falta em mim. Jorge: Está apaixonado. Marcelo: Estou sim, como nunca imaginei ficar. (saem Jorge e Marcelo, Thiago vê Roberta a escuta escondido) Cena 4 – Milena e Thiago Roberta : Ele me amava. Mostrou-me tantas vezes no céu as pequenas estrelas e apontava os planetas em noites de escuridão. Ele me amava, eu tenho certeza. Quando eu nasci, ele me disse várias vezes, fui a sua alegria. Tenho lembranças de noites e tantos dias de passeios, de corridas, de risos sem fim. Até que ele cresceu e eu cresci. E os risos se transformaram em sorrisos. Ele me olhava e não entendia e eu tentava mostrar o meu amor em vão. Mas só enxerga aquele que quer, quem tem propensão. Marcelo nunca me vira como sua mulher, mas como irmã ou filha talvez. Que dor sinto eu. Sábado se aproxima, o dia mais escuro de minha vida, a dor mais profunda em meu coração. Oh, meu doce e rude Marcelo. Adeus, enterro aqui o meu amor por ti, no dia de seu casamento. Thiago: Peguei. Roberta: Não, por favor, não conte a ninguém. Thiago: O que é isso, Roberta? Que susto é esse? Até parece que eu sou uma pessoa que mereça tanta desconfiança. Roberta: Não é isso. É que você ouviu sem querer, algo que eu disse sem querer. Disse para mim mesma e essa conversa acabou aqui. Thiago: Que falta de esperança! Roberta: Não, não posso fazer mais nada, Thiago. Tivesse eu feito antes, agora é tarde demais. Thiago: Não diga isso. Vai jogar a sua vida fora? Estou dizendo como seu amigo. Quem sabe, Marcelo também não guarde um amor por você em segredo. É para o seu bem e do Marcelo, que também é meu amigo. E se ele casa com a Desdêmona dessa forma, também não fará dela uma mulher feliz. Roberta: Ele comentou alguma coisa com você? Thiago: Um dia deixou escapar. Depois ficou rubro de vergonha. Roberta: É mesmo? Me conte mais. Thiago: Não posso fazer isso. O Marcelo me mataria se soubesse. Roberta: Obrigado Thiago, você me devolveu a felicidade. Thiago – Mas eu não disse nada! Roberta – Eu entendi. Thiago- Não jogue a sua vida pela janela, ouviu, menina? Ligo pra você mais tarde. Cena 5 – Marcela e Thiago Milena: Não consigo dormir. Thiago: O silêncio ajuda. Fique quietinha, meu amor. Milena: Você encontrou o Marcelo hoje? Thiago: Claro. Milena: E você não notou nada? Não aconteceu nada? Thiago: O que, mulher? Milena: É que ele e Desdêmona se casam sábado. Thiago: Sim e daí? Milena: Nada. Nadinha. Thiago: Então, boa noite. (silêncio) Milena: Eu gostaria de ser a madrinha, mas eles convidaram o Jorge e a esposa. Não sei quando fizeram esta amizade, pois Desdêmona era unha e carne comigo. Thiago: Pare de futricar! Milena: Credo, o que você tem? Thiago: Sono. Milena: Ãhn... (silêncio)É que eu pensei ter visto a Desdêmona receber uma carta pelo correio. Thiago: E o que tem? Milena: Nada. Nadinha mesmo. Mas é estranho alguém receber uma carta hoje em dia, não é mesmo? Nunca mais recebi uma. (silêncio)Nem flores. Thiago: Oras, Milena, não me tire do sério. Milena: Ai, Thiago, não é estranho? Eu cheguei a pegar a carta na mão, mas o vento soprou e ela tombou para as mãos de Desdêmona. E então, eu estava do lado, esperando que ela abrisse, e a atormentada disse com palavras poéticas e idiotas que guardaria a carta até sexta. Quer dizer, ela é uma tremenda desmancha prazeres. Não consigo dormir. Não consigo. Thiago: A Desdêmona é esquisita. Tem a cabeça nas nuvens. Milena: Gostaria eu de ser assim. O que foi? Thiago: Me deixe sozinho. Milena: Essa é boa. Vai dormir no sofá. Thiago: Saia. Saia. Saia. (Marcela sai) Essa é a minha chance. Já disse muitas vezes e torno a dizê-lo pela centésima vez: odeio o Marcelo; tenho para isso motivos arraigados no coração. O seio do tempo encerra muitos acontecimentos que terão de concretizar-se. Tem-me afeição. Meu plano, desse modo, sobre ele vi atuar com mais certeza. Jorge é um homem de bem. Ora vejamos como posso alcançar o lugar dele e enfeitar meu desejo com dobrada patifaria. Como? De que modo? Reflitamos. Deixar passar o tempo e embair-lhe os ouvidos, declarando-lhe que Jorge mostra muita intimidade com a mulher dele. O exterior de Jorge e seu todo insinuante o predispõem a tomar-se suspeito facilmente. Foi feito para seduzir mulheres. De natureza é o Mouro livre e aberta; honesto julga ser quem aparenta, tão-só, honestidade. Sem trabalho pelo nariz poderá ser levado, tal qual os asnos. Pronto; já está gerado. A noite e o inferno à luz hão de trazer meu plano eterno. Em frente! Marcha! O posto será meu, nem que para isso uma tragédia aconteça. Está fácil, muito fácil. As sementes estão soltas por aí. Só é preciso germiná-las. Acorde dia, preciso trabalhar. Cena 6 – Jorge e Thiago (Jorge passa) Thiago – O vento sopra ao meu favor. Jorge, que bom vê-lo! Jorge – Meu amigo, o que está fazendo por aqui? Thiago – Vim visitar meu irmão. Jorge – Eu não sabia que tinha irmãos. Thiago – Pois é... E o Marcelo? Jorge – O Marcelo? Não sei. Não sei, por que? Acho que está no escritório. Thiago – Não, você é seu melhor amigo e não sabe? Ai, por favor, Jorge. É que eu pensei... Jorge – Fale logo, o que aconteceu. Thiago – Bom, não era nem para eu estar sabendo. É que eu ouvi por acaso a discussão. Jorge – Que discussão? Thiago – Jorge, por favor, não me tome por fofoqueiro. Não conte para o Marcelo que eu estou te dizendo, por favor. Ele nem sabe que eu ouvi. Só estou preocupado com ele. Jorge – Estou ficando nervoso. Thiago – A Desdêmona desmanchou o casamento. Jorge – O que é isso, meu amigo? Ela ficou louca? Thiago – Parece que ela desconfia que o Marcelo está se encontrando com a Roberta, às escondidas. Jorge – Mas isso não é verdade. Thiago – Pois é, vá você convencer uma mulher enciumada. Jorge – Pois eu vou. Não vou deixar essa união acabar assim. Vou falar com a Desdêmona. Dê alguma desculpa ao Marcelo. Não vou ao nosso encontro. Aproveito esse tempo em que ele não está lá para acabar com essa patacoada da Desdêmona. Não diga que irei, sim? Thiago – Claro, boca fechada. Esse é o nosso segredo. Cena 7 – Tia Tia – Desdêmona, pobre Desdêmona. Já conheci tantas mulheres assim. Procuram no homem que escolheram um sonho que perseguem desde pequenas. Não é que os homens sejam ruins, eles são eles mesmos. A mulher é que não deve pensar poder modificá-los. É muita onipotência nossa. Fazer brilhar os móveis, esperando alguma recompensa. Esses brilhos são opacos aos olhos dos maridos. Eles deixariam assim mesmo, móveis foscos, toalhas viradas, camas por arrumar. Oh, Desdêmona! Vim para te proteger como filha, sou mãe no lugar da tua que se foi tão cedo. Tão logo tornou-se filha em meu coração que está aberto desde então para ti, para teus anseios, ansiedades e para acolher seu sofrimento . Quando vier... quando vier... ele será inevitável. Vejo a hora se aproximar. Está prometida à desgraça. O ciúme corrói qualquer pensamento, transforma o que é bom em nada, transforma o mundo em uma pequena casca de noz, as maravilhas em coisas corriqueiras, banais, a vida sem esperança. Marcelo não é ruim, é ciumento, basta uma faísca. Já vi essa história. Sua avó perdeu os sonhos assim. Disse que lerá a carta na sexta, aguardo exaustivamente como os ciumentos. Estou pronta. Avó – Fio por fio, vejo a mesma cena. Estou pronta. Filha não se desespere. Feche seus olhos para não sentir. Sei que uma mãe nunca descansa (tia não vê a avó - Desdêmona fantasma aparece) Leia a carta, querida. Está na hora. Desdêmona fantasma – Já vou, vó. Ela sempre quer pentear meus cabelos, quando estou eu a correr. As avós sempre são assim. Já vou vó. Já vou. (saem os fantasmas, tia suspira) Cena 8 - Cena do Thiago e do Marcelo Marcelo - Estávamos precisando relaxar um pouco não é Thiago? É muito trabalho ao longo do dia. Thiago - Concordo com você meu amigo, apesar de ser um ótimo trabalho ainda sim é um pouco desgastante. Até merece um brinde. Ao sucesso do nosso banco. Marcelo - Com certeza, nós batalhamos muito pra deixar esse banco como está, que bom que eu sempre tive ótimas pessoas ao meu lado, como você, Jorge, Roberta, trabalhando comigo. Thiago - É sim, Jorge e Roberta são ótimos colegas de trabalho, estão sempre ao dispor do banco, eu até me sinto mais seguro trabalhando com pessoas assim. Marcelo - Eu também, principalmente com você Thiago, faz três anos que trabalhamos juntos, você sempre deu o sangue pelo trabalho, por isso que é meu braço direito e de quebra é meu melhor amigo. Sempre pude confiar plenamente em você, e nos seus conselhos. Thiago - E sempre poderá confiar, estarei sempre ao seu lado não importa o que houver. Mas mudemos de assunto, como está o casamento? Acho que bem, por que sempre o vejo feliz da vida. Marcelo - Meu casamento vai muito bem Thiago, Desdêmona é uma mulher maravilhosa, foi a melhor coisa que me aconteceu na vida, não achei que tal felicidade realmente existisse, às vezes tenho medo de acordar desse sonho. Thiago - Seria uma pena mesmo. Perder a mulher da sua vida, espero ser só impressão. Marcelo - Como assim, espero ser impressão? Do que esta falando? Thiago - Acho que falei demais, não é nada que deva ser tratado por colegas de trabalho, Marcelo, esqueça o que eu disse. Marcelo - Não, não conseguirei esquecer disso, não Thiago, me diga, não como colega de trabalho, mas como meu amigo que sempre foi, o que você esta me escondendo? Thiago - Não sei se devo me intrometer? Marcelo - Thiago, não faça isso comigo, não me deixe nessa situação, por favor me diga. Thiago - Está bem, mas não me leve por fofoqueiro, já que foi você mesmo quem quis saber... Às vezes, quando sua esposa vem ao banco fazer uma visita à você, eu sinto que ela é vista por olhos mais desejosos que os seus. Marcelo - Mais do que eu? Mas por quem seria? Me diga. Thiago – Preste atenção, você. Não posso dizer. Marcelo – Agora me fale, você começou. Thiago – Eu não deveria... Marcelo – Não saímos daqui hoje. Thiago - Seu mais recente gerente. Jorge. Marcelo - Não é possível, você deve estar enganado, Jorge é leal a mim, assim como você. E ele me ajudou a conquistá-la, ele não seria capaz de tal traição. Não a mim. Ele é meu padrinho de casamento. E a Roberta é amiga da Desdêmona. Não pode ser! Thiago - Assim fico mais tranqüilo, se vocês são tão próximos e você tem tanta confiança nele, ele não seria capaz de algo tão tenebroso, ainda mais depois de ganhar um cargo de tanta importância, no qual ele pode construir uma família sem se preocupar com os gastos, já que o cargo de gerente só é abaixo ao seu de diretor do banco. Marcelo - Thiago, onde quer chegar? Está dizendo que isso tudo seria um plano pra ganhar meu cargo e minha amada? Thiago - Não me atreveria a dizer tal coisa, mas seria muito conveniente pra ele. O ponto central é: você confia na sua esposa Marcelo? Marcelo - Completamente, ela nunca me deu motivos pra não confiar, a única vez que a vi mentir, foi para a tia quando começamos a nos envolver. Thiago - Mentiu para a própria mãe? Sua tia é como se fosse sua mãe, não é? Marcelo - É meio estranho mesmo, mas foi para o bem do nosso amor. Para mim ela nunca mentiu. Thiago - Entendo, seria muita deslealdade ela mentir para você como fez com a mãe, não? Marcelo - Seria, sim, acho que isso acabaria com tudo o que temos conquistado juntos. Thiago - Acabaria? O que você faria se ela o traísse? Marcelo - Nem eu mesmo sei meu amigo. Thiago - Marcelo? Marcelo - sim? Thiago - Você disse a Desdêmona que chegaria tarde hoje, certo? Marcelo - Certo. Thiago - Onde está Jorge? Marcelo - Ele disse que não estava se sentindo muito bem, por isso não quis vir conosco? Thiago - Seria isso mesmo? Marcelo pensa um pouco em silencio Thiago - Vá para casa, veja como esta sua esposa, se ela esta sozinha, não ligue, apareça sem avisar, se ela não tiver nada a esconder ela vai adorar a surpresa. Não há de ser nada. Marcelo - Acho que sim. Thiago - Vá rápido, estarei rezando pra que eu esteja enganado e que esteja tudo como deve estar. Marcelo - Eu também Thiago, eu também, até mais ver. Marcelo sai. Thiago -Meu veneno vai agindo e meus peões estão posicionados para o sacrifício. Cena 9 – Marcelo vê Desdêmona e Jorge conversando na sala de casa Desdêmona – Marcelo, querido. Chegou cedo. Marcelo – Está surpresa em me ver. Desdêmona – Estou sim. Jorge – Marcelo, eu... Marcelo – Não precisa explicar. Eu sei de tudo. Poupe meus ouvidos de mentiras e ingratidão. Jorge – Amigo, realmente eu te devo uma explicação. Marcelo – Quieto. Quietinho que sou capaz de cortar a sua garganta. Meu sangue pulsa mais do que possa imaginar, mais do que você conhece em vida. Desdêmona – Querido, você está sendo muito rude. Marcelo – Não me venha com essa história, porque a minha grosseria, a minha rudeza é melhor do que a canalhice de vocês. Quer sai sozinha... Saia agora. Desdêmona – Sair sozinha? Sempre convido você para ir junto comigo. Marcelo – Parte do seu plano pérfido que agora arrasta para dentro de casa. Desdêmona – Você está passando do ponto. O que está pensando? Do que está falando? O Jorge está sendo muito delicado em vir aqui. Nem chegou a me dizer a que veio e você entra desse jeito. Não seja bruto. Marcelo – Não me fale assim ou eu perco a cabeça. Abra a carta. Desdêmona – O que isso tem com essa discussão? Marcelo – Abra a carta e leia em voz alta. Desdêmona – Pare com isso. Não vou abrir. Isso é assunto meu. Marcelo – (ao Jorge) Saia de perto, saia! (Jorge sai. Marcelo sai. Desdêmona fica perplexa. Olha para a carta) Cena 10 – Avó e Desdêmona fantasma. (Entra a avó / Avó está concentrada, como se estivesse esperando algo – imagem do metrô – teatro nô / Desdêmona entra correndo) Desdêmona fantasma – Vó, por que me persegue? Avó – Eu não te persigo, filha. Você é quem está perseguindo uma trajetória sem fim. Desdêmona – Insiste comigo. Me deixe livre. Não consigo sair daqui. Você precisa me deixar ir embora. Avó – Olhe aquela carta. Desdêmona – Olha você, de novo! Quer pentear meus cabelos. Quer pentear meus cabelos quando estou eu a correr. (Desdêmona sai / Avó fica na mesma posição e não sai mais / Desdêmona viva está olhando a carta) Cena 11 – Roberta, Milena e Desdêmona (Roberta entra correndo, quando Desdêmona pensava em abrir a carta) Roberta – Desdêmona, preciso falar com você. Desdêmona – Oh, minha amiga, meus sonhos estão se indo. Marcelo não me quer mais e não sei o por quê. Roberta – Eu não sei o que dizer. Desdêmona – Não precisa dizer nada. É bom ter você aqui. (abraça a amiga) Roberta – Meu Deus, como posso eu contar, me desculpar, ela nunca vai entender. Tudo foi destruído, pois nunca tomarei seu casamento por meu. Quero pedir desculpas pelos meus sentimentos, como posso fazer isso? (à Desdêmona) Vou embora. Preciso ir. (Roberta não vai porque entra Milena) Milena – Olha só quem encontro aqui. Meu marido tem olho de gato. Roberta – Milena, console Desdêmona você. Eu preciso ir. Milena – E eu sei bem por que. Roberta – Não. Não, por favor. Milena – Você escolheu para madrinha a sua pior inimiga. Está na sua frente o motivo do seu fracasso. Desdêmona – O que você está dizendo? (tia entra) Tia – Não ouça nada filha. Isso não vai te ajudar. Desdêmona – Agora eu quero saber. O que vocês três sabem e eu não sei? Estou sozinha então? Tia – Não é nada. Isso não é nada. A semente depois de plantada, cresce e fim. Não posso dizer, senão eu mesma a arrasto para o fim. Apenas, abra a carta. Não ouça nada. Desdêmona – O que tem essa porcaria de carta? Eu quero saber o segredo que escondem de mim e que está em suas cabeças. Tia – Milena, vá embora. Milena – Não sem antes dizer que o Marcelo te deixa pela Roberta. Foi ela quem roubou seu coração. (Roberta vai embora correndo. Milena se retira triunfante. A avó está em cena. Entra Desdêmona fantasma. / Estão em cena as duas Desdêmonas, a avó e a tia. Thiago observa de longe) Cena 12 – a morte Thiago – O destino é mesmo cruel e irônico. Como eu. Se eu sou como ele, não posso me dar mal. Ao invés, subirei mais alto, no mais alto posto, maior do que aquele que me foi negado por esse infeliz. Depois da semente plantada, a árvore cresce para todos os lados. Do meu galho, cuido eu e ele vai até o céu. (Entra Marcelo) Desdêmona - Não quero ouvir nenhuma palavra. Marcelo – Não preciso mais de palavras. Nunca fui bom com as frases como queria você. No que sou bom, eu sou melhor que as letras. Sou rude, sou oco de compaixão neste momento. Tia – Não, por favor, não. Marcelo – (à tia) Quieta, que já me atrapalhou demais. Tia – Corra Desdêmona. Avó – Desdêmona, venha aqui. Desdêmona fantasma – O que quer de novo? Avó – Chegou a hora, enfim. Pegue a carta. Desdêmona fantasma – O que tem isso afinal? (pega a carta) Avó – É sua última sorte. Abra o envelope. Marcelo – Abra a carta. Desdêmona – Você é tirano e patife. Como pode fazer isso comigo? Marcelo – Leia em voz alta. Avó – Leia em voz alta, querida. Desdêmona – Não leio. Tia – Filha, a carta fui eu quem mandei. Se falasse você nunca acreditaria. Nunca, filha. Você estava cega de amor. Marcelo é bom, mas ciumento. Só isso. Eu disse para não ouvir. Marcelo, quantas vezes, eu tentei te dizer? Tudo isso, é nada, é semente plantada em lugar errado, por mau fazendeiro. Marcelo – Tarde demais. Não tente ajudar, piora as coisas. Tia – Pensei em fazer o certo. Quis acertar dessa vez. Leia, filha, leia. É uma carta de sua mãe. Marcelo – Abra a carta. Desdêmona – Não abro, traidor. Não abro. Tia – Corra, filha, corra. Desdêmona – Ele sai, não eu. Traidor, tirano, patife. Saia da minha casa. Saia. Saia... (Desdêmona está gritando, Marcelo a apunhala. O som cessa de vez. Após o silêncio, ouve-se a carta. Desdêmona fantasma está aos pés de Desdêmona viva.) Desdêmona fantasma - CARTA