miércoles, 24 de agosto de 2011

O VELHINHO DA CALÇA BORRADA



Saí da estação Antônio Giannet, o vagão possuía alguns lugares vazios, sentei-me, tentei ler um pouco ou até mesmo corrigir atividades escolares, não adiantou, adormeci. Acordo com risadas, porém não vejo nada de engraçado, de repente, não mais que de repente sinto a respiração, eis que há mau cheiro no ar. Tento a todo custo saber de onde vem tal fedor, será que estamos próximos de um córrego? Rio poluído? Só sei que está garoando. Poxa, mas os trilhos desse trem não passam por tais lugares, passam sim pela periferia da zona leste de São Paulo, observo a esquerda e nada de estranho, a não ser muitas pessoas tampando as narinas, e não suportando-se em seus lugares, assim como eu. Terá algum terrorista ou até mesmo um separatista injetado veneno no ar condicionado? Será um plano de envenenamento da massa trabalhadora? Dos pobres? Ah, se tivesse um carro não estaria passando por isso. Quem carro tem, literalmente se isola dessa convivência nenhum pouco calorosa e animadora. Mas carro é caro e não estou disposto em desembolsar muita grana nesse momento, preciso comprar uma morada, estabilizar-me, é a tendência do homem, também não tenho certeza de meu destino em Ferraz de Vasconcelos, ultimamente esse Município não tem contratado professores, a política nativa é de arrocho na folha de pagamento, se quer o vale transporte é pago corretamente nessa prefeitura, como diria o cantor Silvio Brito, tem que pagar pra nascer, tem que pagar pra viver, tem que pagar pra morrer e acrescento, professor tem que pagar pra trabalhar. Que droga! O mau cheiro permanece! A CPTM informa: Pedir esmolas e o comércio ambulante são práticas ilegais. Não incentive essas ações. Nada do mau cheiro dissipar, pudera! O trem não abre as janelas e pior, talvez estejamos no maior intervalo de tempo dessa linha, entre as estações: Tatuapé e Brás. Os olhares estão focados num velhinho. Eis que vejo-o com calças borradas. Matei a charada! É ele que está proliferando o fedor, em pé, sozinho, com o rosto virado para o lado de fora da porta do trem ele observa o movimento na rua tranquilamente, como se toda a situação desconfortante passada por nós não tivesse nada a ver com ele. O Brasil não possui vocação para o terrorismo, já possui autoridades políticas que aterrorizam-nos os bolsos o suficiente para percebermos que o imenso borrão na calça do velhinho não é somente culpa dele, um pobre velho marginalizado.

Douglas é Professor em Ferraz de Vasconcelos